Hoje, 23 de setembro, o Instituto Cultural Boanerges Sena completa 42 anos. E o Boanerges Sena estaria completando 106 anos.
O começou foi com uma pequena biblioteca na sala de casa que, com o passar do tempo, foi sendo ampliada e incorporou a missão de preservar a memória cultural, social e política de Santarém e região, adquirindo, produzindo, armazenando e disponibilizando seu acervo para consulta, frequentada por estudantes e pesquisadores do Brasil e exterior.
Diz o ditado popular que elogio em boca própria é vitupério. Por isso, abro espaço para que alguns pesquisadores que frequentaram o ICBS relatem suas experiências com o Instituto, quando lá estiveram em busca de informações que subsidiassem seus trabalhos acadêmicos.
A Historiadora Terezinha Amorim assim definiu o Instituto: "Estar no ICBS é muito prazeroso, lá se respira ciência e cultura, é o lugar onde podemos conhecer a nossa história e fazer memória aos nossos antepassados. O ambiente é muito acolhedor, onde sempre queremos voltar para ver e conhecer a história registrada de diferentes formas, tão bem cuidado. Fico emocionada ao encontrar livros, que com suas folhas amareladas, letrinhas miúdas, muitas ainda datilografadas, nortearam meus estudos e meu trabalho por mais de três décadas. Inúmeras vezes me sinto transportada aos tempos de faculdade, ao encontrar as obras originais dos textos “xerocopiados”, que eram utilizados em quase todas as nossas disciplinas e que eram objeto de desejo de toda turma, lembro-me dos professores da graduação e pós-graduação, que compartilhavam conosco suas leituras sobre determinado acontecimento registrado por aqueles autores cuja obra estava ali, diante de mim, e que eu, finalmente poderia acessar."
Na visão do Padre Sidney Canto: "O ICBS tornou-se um semeador de esperança, um lugar de encontro e, porque não dizer, um paraíso para os que buscam apreender das belezas que o acervo possui."
A antropóloga Telma de Sousa Bemerguy: "O ICBS desempenha um papel fundamental no abrigo de fontes documentais sobre a história da Amazônia e na salvaguarda da memória regional e merece ser divulgado, celebrado e valorizado para que receba cada vez mais o reconhecimento devido pela função social que exerce".
Socióloga Meive Piacesi: "Assim se faz história, assim se mantém a cultura! Como garantir detalhes tão importantes de cada caminhada, não fora pelo zelo e dedicação desse Instituto que, por anos a fio, se preocupou em coletar e organizar informações da história de Santarém para o deleite do seu próprio povo. Documentos, vídeos, gravações, fotos, reportagens de jornal, tudo estava lá, dançando sobre nossos olhos, mexendo com os sentimentos e a memória das vivências, contando a história dessa terra abençoada da Conceição"
Engenheiro Agrônomo Rubens Cardoso da Silva: "Em 1989, quando cursava mestrado em economia na Universidade Federal do Ceará, retornei à Santarém para desenvolver uma ampla pesquisa de campo, cujos dados fundamentariam minha Dissertação, o que me fez voltar ao ICBS. Nessa ocasião, já o encontrei ampliado, sob um processo de melhoria contínua, dispondo importantes informações e conhecimentos, facilitando a pesquisa para os diferentes níveis de interessados. Guardadas as devidas proporções e a natureza do ICBS, quem quer que tivesse (e tenha) o mínimo interesse sobre aspectos do desenvolvimento e da cultura da região, sabe que ali poderia encontrar pistas, perguntas e respostas para suas inquietações... E Eu as encontrei!"
Professor Anselmo Colares: "Quem visita o ICBS e tem gosto pela nossa história, se vê diante de tantos tesouros que pode ficar deslumbrado e perder o foco daquilo que efetivamente busca. Daí porque, caso a visita tenha por finalidade a produção de novos conhecimentos, se faz necessário usar os procedimentos metodológicos próprios das pesquisas com fontes históricas. Para obter o máximo de proveito que o acervo pode propiciar."
Arqueóloga Bruna Cigaran da Rocha: "O ICBS contribui para oferecer um contraponto à visão externa e ignorante que fundamenta projetos predatórios. Seu repositório bibliográfico, fotográfico e sua hemeroteca contém valiosas informações sobre o passado recente de Santarém e região. Para quem não estava aqui, é uma chance para observar como a paisagem santarena foi transformada em poucas décadas. Colocar a história local ao centro torna-se neste contexto um ato de resistência."
Jornalista Lúcio Flávio Pinto: "Num momento em que a migração intensiva e a caracterização da cidade como local de passagem de gente e produtos (sobretudo commodities, como a soja, e minério, como o ouro) estão anulando a identidade própria do lugar e interrompem seu continuum histórico, o ICBS é um núcleo de resistência e um elo vital com o tempo e o espaço."
Professora da USP Elaine Lourenço - "Em minha primeira visita à Amazônia, em 1993, tive muitas gratas surpresas e entre elas, sem dúvida, do ponto de vista da pesquisa acadêmica, a maior foi conhecer o acervo do Centro Cultural Boanerges Sena. Naquele momento iniciava-se uma pesquisa que, posteriormente, transformou-se em uma dissertação de mestrado, defendida junto ao Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, em 1999. Desde o primeiro momento minha orientadora, Regina Sáder, me alertava para a importância daquele acervo. Merece destaque também o fato de que esta biblioteca é mantida pelos próprios recursos de seu proprietário, o que torna a iniciativa ainda mais digna de elogios. Desta forma, seja pela qualidade do seu acervo, seja pela amabilidade de Cristovam, esta constitui ponto de parada obrigatório para todos aqueles que estudam a região."
Professor de antropologia Jeremy Campbell: "Chegando à região com fome de aprender mais sobre sua história social, cultural e econômica, tive a sorte de ser encaminhado ao arquivo e museu privado administrado pela família Sena. Digo “sorte” porque, na verdade, os arquivos que pude explorar eram uma mina de ouro: repleta de tesouros (livros, fotos, artefatos) que me deixaram maravilhado e me equiparam com as histórias de que precisaria para apreciar a escala, grandeza e diversidade das comunidades humanas no Oeste do Pará. Passei sete meses neste oásis. Lendo, escrevendo, pensando. Foi através das coleções do Instituto que conheci a complexidade, a emoção e a sabedoria da história das pessoas e dos lugares de Santarém. Os estudos que concluí nesses confins amigáveis levaram a uma dissertação, que resultou em uma série de artigos profissionais, que por sua vez levou à publicação de um livro premiado sobre políticas ambientais e de uso da terra."
Gustavo, Camila e Juliano: "A paixão do nosso pai pelos livros estava inserida no nosso cotidiano. Muitas das nossas lembranças de infância e tempos de escola possuem a Biblioteca como ponto de referência, nem que seja indiretamente. Nos momentos de estudos, elaboração de trabalhos escolares e pesquisas, a Biblioteca estava sempre presente. O espaço era nosso refúgio para os estudos focados nas provas do vestibular, ponto de encontro para reunião com os grupos do colégio, pois lá encontrávamos tudo que procurávamos."
Hoje, ao chegar aos 75 anos, sinto-me tranquilo a respeito da continuidade do Instituto Cultural Boanerges Sena. A neta Carolina já disse que vai tomar conta do ICBS. Aos 14 anos, Carolina gosta de ler, possui sua biblioteca particular e seu hobby predileto é frequentar livrarias.
Amém!
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