quinta-feira, 28 de março de 2024

O Castelo e a morte anunciada - 11.11.2016


Em 2001 recebemos do diretor do "Jornal de Santarém", Júlio César Aquistapase, como doação para o ICBS, centenas de fotografias e milhares de negativos que compunham parte do arquivo do jornal. Acervo fotográfico das décadas de 1970/80. Edson Queiroz era fotógrafo do jornal nesse período.

Após limpar e separar as que estavam grudadas, catalogamos as fotografias por assunto. Material de primeira qualidade que registra um período da nossa história. E ainda tem muita coisa a catalogar!

Em 2006, veio pesquisar no ICBS sobre "A historia do desenvolvimento e asfaltamento da Rodovia Santarém-Cuiabá”, o americano Jeremy Campbell, aluno da Universidade da Califórnia. Ao retornar aos EEUU para escrever sua tese de mestrado, agradecido pela acolhida e farto material encontrado nos nossos arquivos, perguntou se o ICBS estava precisando de algum equipamento, que ele queria oferecer ao Instituto. Solicitei um scanner que digitalizasse negativos. Passados uns seis meses Jeremy chegou com um scanner da Epson.

A partir do trabalho de digitalização é que fui dimensionar a quantidade e qualidade do material que o Júlio nos tinha doado. Fotos sobre esporte, carnaval, religião, sociedade, política, meio ambiente,... com boas e más lembranças, como a demolição do Castelo, em 1982.

Prédio construído no início do século XIX, em dois pavimentos, na esquina da Travessa dos Mártires com a Avenida Lameira Bittencourt, depois de servir de residência para seus primeiros donos, foi sede do Vice-Consulado português e do Serviço de Proteção aos Índios (SPI); hotel no andar superior; lanchonete, loja de miudezas e escritório de advocacia, em baixo.

Após a construção da Avenida Tapajós, foi intencionalmente destelhado, abandonado, até correr risco de desabar. Foi demolido por sugestão do engenheiro Manuel Canté, secretário do prefeito Ronan Liberal, em abril de 1982.

O poeta e padre Manuel Rebouças de Albuquerque, em homenagem ao 1º centenário de Santarém (1948), escreveu o soneto "Imagem que não se apaga", que reproduzo os dois tercetos finais:

E a Matriz... o "Castelo"... a "Primavera"...
Santa Clara... e essa festa que se espera,
A Festa Popular da Conceição.

É esta a Santarém da minha infância!...
- E quando, ao longe, aspiro essa fragrância, 
Pelos olhos me escorre o coração.

E assim o Castelo virou saudade!


        


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