sexta-feira, 26 de abril de 2024

Amazônia: muita crença, pouco conhecimento - 09.05.2006


AMAZÔNIA:

MUITA CRENÇA, POUCO CONHECIMENTO

 

Meus amigos, estamos vivenciando um conflito que envolve duas correntes distintas de pensamento: das ONGs ambientalistas que por motivos os mais diversos levantam a bandeira da preservação do meio ambiente da Amazônia, contra os desenvolvimentistas que têm no meio ambiente a matéria prima necessária para promover o “desenvolvimento” deles.

Como acontece em qualquer atividade ou movimento, em ambas as correntes existem os bem e os mal intencionados.  E o conflito, se contido dentro de limites civilizados e arbitrado pelo Estado é útil às organizações, pois determina seu dinamismo e crescimento. 

O combustível desse conflito é a forma como, em nome do “desenvolvimento” ou da “preservação”, vem sendo utilizado os recursos naturais da Amazônia. Conveniente salientar que recursos naturais já existiram e existem em vários lugares, mas o que gera o desenvolvimento é a organização da sociedade onde está localizado o recurso natural. Organização que passa pelo querer conhecer o jogo dos colonizadores que exploram ou defendem esses recursos naturais, tanto hoje como antanho. Colonizadores que pela aculturação conseguem moldar o cérebro dos colonizados para que pensem e ajam segundo seus interesses. No final, os colonizados acabam defendendo esses interesses como se fossem deles, como se todos fossem tirar proveito e usufruir das riquezas geradas e distribuídas por eles. Quando os recursos naturais acabam, eles levantam âncora e vão embora. O caso mais recente é o manganês do Amapá.

Será que a expansão da soja para o Oeste paraense e a exploração das nossas reservas minerais, para ficar nessas duas, foram propostas nossas, que surgiram da sociedade da região, dos seus movimentos organizados, das suas necessidades, da sua vontade? Ou foi mais uma proposta de fora para dentro!

Será que a criação das florestas nacionais, das reservas indígenas e florestais, para ficar nessas duas, foram propostas nossas, que surgiram da sociedade da região, dos seus movimentos organizados, das suas necessidades, da sua vontade? Ou foi mais uma proposta de fora para dentro!

Falando sobre a Amazônia, Lúcio Flávio Pinto constata que “as propostas de fora para dentro são as únicas que impulsionam o nosso debate e mobilizam o nosso governo. As únicas. E só existe uma forma de se deixar de ser colônia, sabendo o que está acontecendo de verdade”.

Nesse conflito, analisando o que falam os defensores de ambos os lados e de todos os ramos do saber, é fácil identificar que os discursos, em sua maioria, estão impregnados de crenças e falhos em conhecimento, por trás dos quais sentenciam verdades absolutas a partir de premissas duvidosas, quase sempre sem levar em consideração a presença do amazônida nesse imbróglio. 

São os “ambientalistas”, com movimentos e faixas, defendendo a Amazônia da sanha dos produtores de grãos, pecuaristas, madeireiras e mineradoras, sentenciando que o mundo vai acabar se destruirmos a sua mata. Querem proteger aqui o que os países ricos de lá não conseguiram durante a construção de suas histórias, pois para tornarem-se ricos depredaram seus recursos naturais; colonizaram e ainda colonizam nações saqueando riquezas; defenderam a escravidão numa guerra fratricida; utilizaram mão-de-obra infantil nas minas de ouro e de carvão; dizimaram seus bugres e bisões com o famoso rifle Winchester – célebre nos filmes de caubóis americanos – dentre outros crimes que cometeram e ainda cometem impunemente. 

São os “desenvolvimentistas”, com adesivos, responsabilizando os “ambientalistas” pela pobreza da Amazônia, como se eles fossem culpados pela corrupção que tanto mal fez à Região ao desviar milhões de dólares que tinham como objetivo realizar o desenvolvimento socioeconômico hoje reclamado, capaz de gerar os empregos e distribuir a renda exigida por todos, grana que foi parar e continua parando nos bolsos de uma meia dúzia de “espertos” brasileiros; ou pela grilagem que entregou nas mãos dos CR Almeida da vida, latifúndios que são gigantescos enclaves na Amazônia; ou estivessem aqui durante as décadas de 70/80 para impedir o asfaltamento da BR 163; ou pelo pífio investimento do governo em ciência e tecnologia, que  associado ao analfabetismo e quejando, corroí a população nativa pelo desgaste humano, pois o pouco que produzem na agricultura é conseguido à base do machado, do fogo, da enxada e do terçado.

Meus amigos, nesse verdadeiro jogo de empurra, os ricos esquecem seu passado de espoliação dos recursos naturais, enquanto que os pobres culpam os ricos pela miséria em que vivem, e querem ser ricos repetindo os crimes cometidos por eles. E a Amazônia precisando urgentemente que se estabeleça uma relação entre recursos naturais, recursos humanos, pesquisa, ciência e tecnologia, sem o qual o conflito não será resolvido com sabedoria.

A Amazônia precisa urgentemente de cientistas que a estudem. “Cientistas no campo e não no campus, com bolsa de pesquisa, uma boa estrutura. Se a gente não colocar a formação antes da transformação está liquidada a Amazônia. Devemos conceber investimento em pesquisa não como retaguarda, mas como vanguarda”, como bem diz Lúcio Flávio Pinto.

Acontece que investimento em pesquisa na Amazônia não é prioridade para o Brasil, desde Pedro Álvares Cabral. O orçamento para ciência só não é mais ridículo porque dois terços deste investimento vem do exterior, de onde vem também o direcionamento das pesquisas que seguem os interesses dos “ambientalistas” e não os da população amazônida. Produzem relatórios que a sociedade científica local não chega a tomar sequer conhecimento, por isso conhecem a Amazônia melhor do que a gente. Como entram com a maior parte da grana destinada a pesquisa, conseguiram se infiltrar no próprio governo brasileiro, ocupando o vácuo deixado por quem deveria estar coordenando o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Diante desse conflito de interesses que expõe opiniões tão díspares e que em nome da “preservação” e do “desenvolvimento” as partes digladiam-se, seria oportuno colocarmos na pauta dessa discussão duas indagações que não são novas, mas com certeza enigmáticas: Haverá futuro para a humanidade sem a natureza? Haverá futuro para a natureza com a humanidade?

Sabemos que o Planeta está vivo, pulsa, e passa por um eterno processo de transformação. A ciência comprova que os oceanos Atlântico e Pacífico já foram interligados; que a Amazônia com sua exuberante floresta já foi mar; que a cordilheira dos Andes um dia surgiu do ventre da terra e separou os dois oceanos; que os dinossauros e outros animais gigantescos um dia sumiram; que já houve tempo em que a terra era formada por uma massa continental única, a Pangéia.

Tudo isso aconteceu sem a interferência do homem, que nessa época nem existia e no seu processo evolutivo deveria ser ainda uma ameba. Não pensem que estou a defender a destruição da Amazônia, na verdade o que desejo é que se reconheça que a Amazônia esta sendo transformada e que precisamos entender essa transformação, sob pena de que ela seja consumada sem a nossa participação.

Que tal, partindo do Oeste paraense, iniciarmos estabelecendo um novo olhar sobre a Amazônia: um olhar curioso, inquiridor, criativo, propositivo. O amazônida precisa ser preparado para perguntar, investigar, examinar e encontrar soluções para os seus problemas, como protagonista. Esperar que a solução venha sempre de fora e caia do céu de pára-quedas é ingenuidade. Ou outro nome qualquer que se queira dar.




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