Revista produzida pelo Canto de Várzea,
Em agosto de 2014 os "rapazes" do Canto de Várzea realizaram bonito show em homenagem ao grande seresteiro santareno Edenmar da Costa Machado, nosso querido Machadinho, intitulado "Cantando pra Machadinho". A festa aconteceu no Centro Recreativo, na ocasião foi distribuída a revista que conta um pouco da sua trajetória de vida.
Uma das inúmeras definições que personifica o boêmio é que ele é um indivíduo de comportamento alegre e despreocupado, considerado normalmente irresponsável, dado a vícios e noitadas divertidas nas rodas de amigos, sempre regada a alguma bebida etílica, por vezes excessivamente descontraído em ambientes festivos e prazerosos.
Hoje octogenário, não há quem olhando seu semblante sereno pode imaginar que ele já foi enquadrado na definição que acabamos de ler, sendo reconhecido pelos seus pares como uma das vozes mais bonitas de Santarém, quiçá do Pará, quem sabe do Brasil.
Vale ressaltar que o boêmio, no seu cotidiano, não é necessariamente um desocupado, um inútil para a sociedade, um desacreditado, um zero à esquerda. Basta lembrar muitos santarenos bem sucedidos, a começar pelo homenageado Machadinho, que ombreou com figuras ilustres como Isoca, Laudelino Silva, Joaquim Toscano, João Fona, Emir Bemerguy, Armando Soares, fazendo "serenata entre o rio e a verde mata, ponteando o violão".
No livro "Emir: pescador de almas e tucunarés", editado em 2013 pelo ICBS, Emir Bemerguy relembra a serenata mais bonita que participou em Santarém, juntamente com o Machadinho, João Fona, Laudelino, Isaac Lisboa, Eros e o Diorlando Pereira, que aconteceu na véspera do casamento do Machadinho:
- Nós começamos meia-noite. Cinco horas da manhã o Machadinho cantou a última, já rouco, "Adios muchachos", bem aqui defronte. Então foi a serenata mas linda que nós já participamos até hoje, mas infelizmente não havia um gravador.
Durante conversa com o Laudelino Silva, em 1990, para fazer parte do projeto Memória Santarena, ele me disse que a voz do Machadinho era igual ou superior a do Carlos Galhardo, Francisco Alves, Nelson Gonçalves. Em seu livro, Emir ratifica a afirmação do Laudelino e conta que quando o Herivelto Martins esteve em Santarém, no apogeu do "Trio de ouro" (Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas), o Machadinho tinha menos de 20 anos e cantou na casa Cristo Rei na abertura do show do famoso trio carioca. O Herivelto quando ouviu o rapazola cantar ficou surpreso, com vontade de levar o Machado para o Rio de Janeiro. Emir afirma que só não o levou porque seu pai não autorizou, evitando que o filho alcançasse renome nacional.
Não é qualquer boêmio seresteiro que tem o privilégio de cantar para um presidente da república, como aconteceu em 1974 quando o Garrastazu Médici visitou Santarém, e Machadinho se apresentou ao lado de Antonio Wanghon, Laudelino Silva e Moacir Santos, dentre outros; nem representar seus conterrâneos no Teatro da Paz, em Belém, durante a Semana de Santarém, em 1972, acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Pará, tendo ao piano seu inesquecível companheiro Isoca. Na ocasião cantou "Canção da minha saudade", deixando nos presentes a sensação de que Vicente Celestino tivesse ressuscitado; ou ser convidado pela VARIG a ir ao Rio Grande do Sul fazendo parte de uma comitiva composta por músicos santarenos, para participar de encontro de agentes da companhia aérea, onde cantou "Terra Querida" e foi efusivamente aplaudido.
Um dia sua voz foi sumindo devagar, minguando, fazendo com que deixasse de lado o violão, abandonando uma das suas duas grandes paixões, porque a outra, a esposa, continuou até a definitiva separação terrena. Hoje, ambas fazem parte do passado, são lembranças misturadas com saudades, mas que emergem do fundo do peito, onde são guardadas com carinho, todas as vezes que algum enlevo as transporte: um perfume, os acordes de uma música,... Sofre resignado as duas separações.
Pela sua participação como protagonista na história musical da nossa cidade, é que considero mais que justa e merecida a homenagem que o grupo musical "Canto de Várzea" prestou ao seresteiro Machadinho, fazendo com que não desfaleça nos braços da malvada ingratidão a lembrança do seu nome.
Para assistir o Machadinho cantando, acesse vídeos documentários.
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