quinta-feira, 28 de março de 2024

Primeiro Catálogo Telefônico da Companhia Telefônica de Santarém


  • Ano: 1956

Empresa Telefônica de Santarém Ltda.

Em 1876 - ano em que 70 mil sementes de seringueiras foram levadas por Henry Wickham para Londres, dando início à quebra do monopólio brasileiro da borracha e consequente decadência econômica da Amazônia - Graham Bell apresentou sua grande invenção, o telefone, numa exposição comemorativa ao Centenário da Independência dos Estados Unidos. O inventor declamou através do aparelho um verso de Shakespeare, D. Pedro II, que participava da festa, estava na outra ponta do aparelho e exclamou: “Meu Deus, isto fala!”.

No Brasil os primeiros telefones foram instalados no Rio de Janeiro em 1883. A cidade contava com 5 centrais telefônicas, cada uma com capacidade para 1.000 linhas, também funcionava a primeira linha interurbana, ligando o Rio à Petrópolis.

Em Santarém, a idéia para incluir a cidade na modernidade da comunicação surgiu em dezembro de 1951. O bancário e maestro Isoca nos conta nas páginas do Programa da Festa de Nossa Senhora da Conceição, de 1981, que o lançamento da idéia aconteceu no gabinete do Sr. Valdemar Tapajós Fernandes, gerente do Banco do Brasil. Estavam presentes "representantes mais destacados do alto mundo dos negócios do município santareno. Foram até ali, acompanhando o recém-empossado Prefeito Municipal Santino Sirotheau Corrêa, com a finalidade de solicitar apoio à realização do vultoso empreendimento".

"A iniciativa da reunião partiu do prefeito, que incluíra, como prioridade em seu programa de governo assinalar a sua passagem pela chefia do executivo municipal, com um empreendimento relevante e útil para a vida de sua terra natal. E nada mais oportuno e de interesse imediato da coletividade 'mocorongo' do que a comunicação via telefônica".

Dessa reunião surgiu a Empresa Telefônica de Santarém Ltda., pioneira no interior da Amazônia, fundada no dia 14 de fevereiro de 1952. Albert Meschede, Kotaro Tuji, Valdemar Tapajós Fernandes e Cel. Mário Fernandes Imbiriba, tiveram participação decisiva na formação da empresa, sendo o Cel. Mário Imbiriba seu primeiro gerente.

Lançada a idéia, em pouco mais de dois anos a empresa começou a operar. O início foi no dia 24 de outubro de 1954, data que na época se comemorava o aniversário de Santarém, 293 anos. Foram instalados 200 telefones que tinham a numeração de 200 a 399. O prefeito Aderbal Sirotheau Corrêa, que se achava acidentado, fez a ligação inaugural do seu próprio leito de enfermo.

Os primeiros equipamentos foram instalados nos altos do Solar dos Brancos, localizado na esquina da Rua Siqueira Campos com a Travessa dos Mártires, onde hoje funciona as Lojas Marisa. Posteriormente a companhia adquiriu terreno e construiu sede própria na Rua Floriano Peixoto, esquina com a Tr. 15 de Agosto.

A Empresa Telefônica de Santarém foi encampada pela Companhia de Telecomunicações do Pará (COTELPA) que depois passou a integrar o sistema de Telecomunicações do Pará (TELEPARÁ). A estatal construiu um prédio na esquina da  Av. São Sebastião com a Travessa Silvino Pinto, onde passou a funcionar o Distrito Oeste de Operações da TELEPARÁ.

Prevendo a expansão da rede, construíram um prédio de 4 andares para acomodar o emaranhado de fios, cabos e equipamentos dos telefones analógicos e seus terminais. A empresa chegou a contar com mais de cem funcionários fixos. Com o advento dos telefones digitais o prédio ficou sem utilidade para a empresa. Tudo passou a ser acomodado numa sala 4x4. Maurílio, Pedro Paulo, Edvaldo Paca-Toca, Juvenal Pachá, Milton Peloso, Vicente Silva, Luciano Lobão, João Melo, alguns funcionários da Telepará que conheci e convive. 

O primeiro catálogo telefônico trazia na segunda página recomendações de como deveria ser usado o telefone. Convivendo agora com os telefones celulares onde as crianças de quatro, cinco anos fazem gato e sapato com eles, as recomendações dão bem a dimensão da preocupação da empresa com o manuseio dos aparelhos pelos usuários, e da precariedade do serviço disponibilizado em 1954, mas que representou inestimável avanço na comunicação interna da cidade.  

As 10 recomendações (mandamentos) da Empresa Telefônica de Santarém para os seus usuários.

1 - Antes de levantar o fone, certifique-se do número a chamar;

2 - Levantando o fone espere o ruído de "linha livre", que é um zumbido contínuo. Dando este pode ligar;

3 - Se ao levantar o fone, dê o sinal de "linha ocupada", que é mais ou menos um zumbido compassado, reponha o fone no gancho, espere regular tempo, e depois tente novamente. Nunca deve dar batidas seguidas com a mão no gancho;

4 - Se cometeu um erro ao discar, proceda como se tivesse linha ocupada;

5 - Reduza o tempo de ocupação do telefone. Não prolongue inutilmente as conversações nem permita que outros o façam em seu telefone;

6 - Se lhe pedem para chamar a vizinha, indague o número que está pedindo e desligue o fone. Enquanto vai chamar, e até a vizinha vir, outros podem dar três ou quatro telefonema na vaga;

7 - Atenda prontamente as chamadas. Enquanto seu telefone está chamando, está ocupando linha, que certas horas do dia é bastante escassa;

8 - Atendendo seu telefone, não use expressões como "Alô, Pronto". "Quem fala", etc. que só retardam a conversação. Atenda dizendo ou seu nome, ou o número do telefone;

9 - O esquecimento do telefone fora do gancho, ou a retirada proposital, para não ser incomodado, prejudica imensamente todo serviço telefônico, pois ocupa linha e gasta energia;

10 - Não abra seu telefone, nem mexa em nada. A Empresa tem por obrigação fazer quaisquer conserto "GRATUITAMENTE" somente a substituição de peças ou fios pode ser cobrado.

Naquela época, quando as famílias se reuniam em casa, e os amigos em bares e restaurantes, passavam o tempo todo conversando. Hoje, ...

Casa Fluminense, A Laranjeira, A Curiboca, A violeta, A Graciosa, Casa Atenciosa, Casa Albano, Casa Miléo, Casa Moraes, são algumas das lojas comerciais que anunciaram no primeiro catálogo telefônico de Santarém, em 1954. Das dezenas de anunciantes, somente o Bar Mascote sobreviveu.

Aleluia ao Bar Mascote!


                                                                                                                                                                                                  


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