O Livro Azul - 10.11.2023


O Livro Azul

Hoje, Sebastião Tapajós está sendo duplamente homenageado.

O Governo do Estado inaugura o Centro de Convenções denominado Sebastião Tapajós, e a UFOPA Tapajós, em suas dependências, inaugura a estátua de Sebastião Tapajós, em tamanho real, projeto do artista Renato Sussuarana.

Em janeiro de 2009, dia 17, um sábado, fui procurado pelo Deputado Estadual Alexandre Von. Veio ao ICBS acompanhado do Sebastião Tapajós, que trazia consigo uma pasta contendo recortes de revistas e jornais, com artigos e cartazes das suas apresentações no Brasil e exterior.

Fiquei admirado com o conteúdo do material impresso, pois sabia que o Sebastião não ligava muito para o que saía na imprensa sobre sua carreira artística. Disse-me depois que aquele material foi o que sua esposa Tânia tinha conseguido recuperar do muito que já tinha sido extraviado, e que existiam outras pastas iguais àquela em sua residência.

Alexandre me explicou que sua idéia era produzir uma espécie de currículo ou catálogo das obras musicais do Sebastião, a fim de subsidiar o Dr. Mário Ribeiro no projeto que iria apresentar à UEPA, propondo que a universidade concedesse ao Sebastião o título de Doutor Honores Causa.

Aceitei a ideia do Alexandre e acrescentei que, pela quantidade e qualidade do material contido nas pastas, poderíamos também editar um livro biográfico da carreira artística do Tião. Ele topou! No sábado seguinte fui até a casa do Sebastião Tapajós conversar com ele e a esposa Tânia. Mostraram outras pastas com farto material sobre a vida do Sebastião, que eu trouxe para iniciar os trabalhos no ICBS.

Voltamos a nos encontrar no início de Abril, no ICBS, quando mostrei ao Alexandre e Sebastião uma boneca do livro. Ao ver e folhear o livro, Sebastião começou a lacrimejar e veio me abraçar. Seria o primeiro livro editado sobre a sua vida, estava emocionado.

Organizar os arquivos do Tião, trabalhar com fragmentos de sua história de artista precoce foi tarefa gratificante, em todos os sentidos. Mesmo tendo em mãos farto material sobre a sua vida artística, sabia que representava apenas ínfima parte do que se escreveu sobre sua extensa carreira de músico profissional, iniciada em Belém no ano de 1961 integrando o conjunto "Os Mocorongos", dirigido pelo professor Gelmirez Melo e Silva que teve visão de investir no potencial artístico do jovem talento santareno.

Não procurei garimpar novas noticias, prendi-me somente ao material recebido da dona Tânia, por considerar que tinha em mãos uma mostra representativa do que o mundo pensava e pensa sobre a arte musical de Sebastião Tapajós.

A oportunidade de manusear o acervo do Tião me permitiu conhecer com mais profundidade a vida desse mago do violão, de quem fui vizinho na infância vivida no Morro da Fortaleza, em Santarém, sem desconfiar que estava sendo privilegiado testemunha do inicio da sua marcha triunfal rumo ao estrelato, que começou com o disco "Apresentando Sebastião Tapajós e seu Conjunto", produzido em Belém em 1963.

Dei ao livro, lançado em Santarém por ocasião da 6ª edição do "Salão do Livro", em 2013, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, o título "Sebastião Tapajós: 50 anos de vida artística".

Sebastião adorou o livro, quando era procurado para dar entrevista sobre a sua carreira artística, logo perguntava ao interlocutor:

- Tu já leste o Livro Azul?

O Livro Azul foi a contribuição que prestamos ao grande Sebastião Tapajós, ele registra imagens vivas da sua brilhante carreira artística, que chegou ao fim no dia 2 de outubro de 2021.

“O poeta morre, mas, se fizer uma coisa bonita, ele fica. Esta é a busca de todo artista: a imortalidade por meio da arte. A arte é uma espécie de protesto contra a morte”: Ariano Suassuna.

Sebastião Tapajós é imortal!




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