Sebastião Tapajós - 06.10.2021


Sebastião Tapajós

 

“O poeta morre, mas, se fizer uma coisa bonita, ele fica. Esta é a busca de todo artista: a imortalidade por meio da arte. A arte é uma espécie de protesto contra a morte”: Ariano Suassuna.

No final de 1958, Sebastião Tapajós, incentivado pelo professor Gilmerez Melo e Silva, foi estudar em Belém e integrar o conjunto musical Os Mocorongos, formado por estudantes e dirigido pelo próprio professor Gilmerez. Foi o início da carreira artística do gênio latente de Sebastião Tapajós, despertado quando ainda morava em Santarém.

A carioca Edna Savaget, escritora e apresentadora de televisão, publicou no jornal A Província do Pará, de 11 de julho de 1968, a crônica "Um violão de Belém", que reproduz:

"Chegou de manso, tímido, olhar tranquilo, riso meio esboçado, pedindo licença para conosco conviver, ainda que apenas socialmente, eventualmente, de vez em quando. Falava pouco, sorria muito, chamava, e ainda chama, todo mundo de doutor e senhor , com seu sotaque nordestino, seus dentes de ouro muito estendidos, uma simpatia e uma segurança que são tão eloquentes quanto a sua arte prodigiosa.

Veio à nossa casa trazido por um dos grandes compositores de nossa praça, Dr. Billy Blanco, o arquiteto que faz construções geniais com as notas musicais e o ritmo de nossa terra. O nome do rapaz simples como ele próprio: Sebastião. E como Sebastião não é de muito falar, o pedido veio logo. “Toque alguma coisa Tião”. E o rapaz de Belém do Pará, que aliás não é de Belém, mas sim de uma cidadezinha perdida no mapa no fim do mundo do Pará, começou a crescer em nossa sensibilidade, em nossa admiração, em nosso respeito. Um violão em suas mãos vale por uma tribuna onde o grande orador emite suas ideias, e seus conceitos. Os filhos claros, os acordes rapidíssimos,

Habituamo-nos a ouvi-lo, a pedir mais, a desejar conhecer suas próprias composições, como aprendido, com quem aprendeu, como chegou perto de um instrumento pela primeira vez, como – tendo nascido tão longe, filho de gente humilde, sem meio , cidadezinha perdida nos rincões do norte, como foi parar nos Estados Unidos, Europa, no Rio, em nossa casa, em nossa sensibilidade, em nossa admiração, humilde Sebastião Tapajós não argumenta nem explica. Executável. E nós falamos a ouvi-lo já sem vontade de explicação ou curriculum vitae. Não precisa,. Dispensa-se.

O que importa é ouvir de Baden Powell as palavras que ouvimos: “Tapajós? É ótimo. É excelente. Adoro ouvi-lo. Por sinal, este violão é dele. eu emprestou...”

Em breve todos ouvirão falar deste moço tímido que toca violão como gente grande. Em breve ele será um nome internacional. Não se iludam. Em breve, muito em breve, seu nome ultrapassará fronteiras, fará o mesmo em beleza e seriedade que nosso Baden fez, transferir o nome de nosso País para o exterior e teremos a assinalar mais um bamba em musicalidade e virtuosismo. Salve seja!"

Pois é, sábado, dia 2 de outubro, o nosso Sebastião nos deixou, ficamos sem a sua presença física tão bem retratada nas palavras de Edna Savaget: simples, humilde, tímido. E a simplicidade era a marca do Tião, que tinha a música como sacerdócio.

“Para ser bem sincero, o violão é a razão da minha vida. Ele é para mim, desde a minha infância, em Santarém, uma ajuda indispensável para uma boa comunicação. Naquele tempo, eu sonhava com o violão, principalmente com o que poderia conseguir com ele e através dele. nesse sonho, havia uma espécie de mundo mágico, onde só existiam filhos e eu era aquele que, em pensamento, os colocava em sequência, sem entender, naquele tempo, algo de música”: Sebastião Tapajós.




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