O menino do Dom Amando - 14.03.2022


O menino do Dom Amando

 

Do meu tempo de estudante, que teve início em 1956 no Frei Ambrósio com o curso primário e admissão ao ginásio, passando pelo Dom Amando com ginasial e científico e que finalizei em 1977 na Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, atual UFRA, ainda guardo bem guardado na memória a figura de alguns professores que nos deixaram marcas indeléveis pela empatia, paciência,  capacidade de despertar nossa curiosidade e alimentar nossas dúvidas, nos ensinando a pensar.

Nesse 14 de março, dia em que o Dom Amando completa 79 anos de existência, homenageio o colégio que foi nossa "Fonte do saber", com uma crônica do professor de português e saudoso amigo Nicolino Campos, intitulada "O menino do Dom Amando", de 1971.

O menino do Dom Amando

Foi em 1959 que comecei a lecionar no Dom Amando. Já lá se vão 12 anos! Os meninos de ontem são os Srs. Doutores de hoje, são os diretores, prefeitos, vereadores, homens de negócios, professores, padres, etc, etc. etc...

Quantas saudades do velho casarão. Parece-me ainda ver o colégio formado na área coberta, e o Caribu lá em cima marcando o início do canto, - Contato companheiro!!!

E soava na manhã bonita os acordes de canção do aviador...

Quem não se lembra dos gritos do Totó de manhã após o café subindo as escadas para o dormitório; quem não se lembra do Laurimar cantando a todo vapor “La Violetera”, nas noites de quermesse; quem não se lembra dos deméritos do Catita e do seu latim; do riso sério do irmão Ernesto; do “Puxa-vida” do irmão Ricardo; do barrigão do Luiz Otávio no cabo de guerra derrubando todo mundo; do Piraca e seu bando de irmãos que ele distribuía pelas salas; da desarrumação do Patativa e seus conselhos; do Bonifácio e seus discursos; do violino do Almério... e  tantas outras lembranças.

Muitos dos meninos de ontem esqueceram esse passado, sepultaram essas lembranças e alguns mesmo, felizmente poucos, sufocaram a formação moral e religiosa que ali tiveram por tortuosos caminhos.

Alguns agora andam muito enfatuados, outros conservam a simplicidade de sempre, uns ao encontrarem os antigos professores ainda se lembram deles como tal, outros passam por cima e passa o professor a ser outro “tu” entre tantos, apesar da diferença de idade que os separam.

Se todos nós pensássemos bem, sem querermos nos  enganar a nós mesmos, veremos que, apesar da idade, dos títulos, das posições ocupadas, dentro de nós resta muito do menino que fomos ontem, nunca esse menino morre dentro de nós, nós é que o escondemos ou o disfarçamos sobre mais diversas formas.

Temos certeza que dentro de nós é o menino que fomos ontem que ainda guarda em si os ensinamentos recebidos, que em determinadas horas faz-nos voltar a razão e fala alto ao homem maduro, lhe indicando os rumos a seguir.

Quem não quer escutar essa voz do menino que fomos ontem é que envereda por sendas escuras, é que se modifica para pior, é que se dá uma importância que não tem, é que esquece a lealdade e simplicidade do menino que assimila os ensinamentos, segue os bons conselhos, e guarda os bons costumes.

O Dom Amando deu tudo, instrução e formação com fartura de exemplos.

O Dom Amando é o decano dos colégios secundários de Santarém, é uma fonte inesgotável a jorrar saber, formação, cultura, educação, civismo, religião, dessedentando gerações e gerações de jovens.

Não permitam seus ex-alunos e seus ex-professores que como tantas outras coisas em Santarém, isto se perca no passar dos tempos, sem um registro para o futuro, sem que esse manancial todo de repente cesse de jorrar por falta de estimulo e de amparo.

Vamos formar a associação dos ex-alunos do Dom Amando, incluindo-se aí também os antigos professores, para que reunidos façam renascer ou reanimar as velhas amizades e relembrar princípios morais que sempre nortearam seu destino, e que hoje o progresso e os avanços sociais tentam sepultar.

E para que os moços de hoje vejam congregados, reunidos os moços de ontem, mostrando-lhes com os exemplos de suas posições o que pode e deve ser feito com os ensinamentos recebidos.

Os sucessos e insucessos dos alunos de ontem hão de servir de exemplo e de alerta aos alunos de hoje, mostrando-lhes o que fazer amanhã com o hoje que tem nas mãos.




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