Primeiro e único
Resolvi escrever esta crônica para homenagear o extinto América Futebol Clube.
Umas das minhas paixões é o futebol. Tenho por este esporte uma relação de quase dependência, como os viciados por cigarro ou outra droga qualquer.
Devo muito ao futebol. Não ganhei dinheiro com ele, mas facilitou-me a vida, deu-me amigos, tornou-me reconhecido na cidade, sem exigir que mudasse meu temperamento, meu caráter. Digo isso tendo jogado somente cinco anos em Santarém pelo América (1964/68) e um ano e meio em Belém pelo Paysandu (1969/70). Fui campeão pelos dois: 1965 em Santarém, 1969 em Belém.
Em 1970, aos 22 anos, desiludido com as constantes contusões, passei em concurso público para a Petrobras e abandonei a carreira. Abandonei também o curso de química industrial que estudava em Belém, fui cursar geofísica no Rio de Janeiro para poder trabalhar na Petrobrás - bem antes da Lava Jato. Fui realizar alguns dos meus sonhos: viajar, conhecer a Cidade Maravilhosa e assistir uma partida de futebol no Maracanã.
Quando retornei para Belém em 1971 voltei a ser peladeiro, profissão de origem. Iniciada no final da década de 1950 no campinho do Frei Ambrósio, depois nas praias do Rio Tapajós, onde me divertia com os amigos Zé Baldinho, Tarzan, Sulanca, Xabregas, Mucurinha, Bianor Tubarão, Ratinho, Antônio Marcião, Gorila, Ronaldo Gentil, Acari. Alguns nomes e apelidos dessa turma de bons peladeiros. O prefeito de Santarém, Dr. Everaldo Martins, também aparecia de vez em quando para jogar de centroavante. Nessa época, para ajudar nas suas campanhas políticas, organizou o Praiano, time de peladeiros, e nos levava para jogar nas comunidades do interior em época de eleição.
Até hoje pratico futebol com a convicção de que estou participando de um ritual, com todo o seu conjunto de gestos e formalidades que as religiões exigem. Me cuido, para poder jogar até quando o corpo permitir, principalmente o joelho direito, submetido a duas cirurgias. Sei que a fadiga do material um dia conseguirá me parar. Espero que demore pelo menos mais um lustro.
O América Futebol Clube representou durante a sua curta existência a terceira força do futebol santareno. Fundado no dia 13 de março de 1947, disputou campeonato até 1976. Em 1965, lá se vai meio século, conquistou o título de campeão santareno. Como o campeonato de 65 foi decidido no dia 20 de março de 1966, esperei pelo 20 de março de 2016 (50 anos) para contar detalhes do título histórico de 65. Era comum naquele tempo o campeonato iniciado num ano terminar no ano seguinte. Coisas da Liga Esportiva de Santarém.
Em 1964, estudante no Dom Amando, nosso professor de educação física era o Márlio Cunha, que também era treinador do América. Só homens, naquela época, estudavam no colégio dos Irmãos da Santa Cruz, assim as aulas de educação física se resumiam em jogar futebol. Agindo como professor e olheiro do América, Márlio ia separando os que tinham intimidade com a bola e carregava para o seu time. Quando me levou para treinar no campo do Seminário, encontrei por lá uma turma de amigos que no ano seguinte fez história conquistando o título de 1965. Primeiro e único!
Praxedes, Nelson Cacela, João Figueira, Eluzio Guerreiro (Lulu), José Aurélio, Cristovão Lins (Tovica), Every Guerreiro, Valério, Podaliro Amaral, Manuel Campos (Manelão), Luiz Meschede (Alemão), Palito, Polarinho, José Lins (Nhunga), Bebê Guerreiro e os irmãos Sousa: Renato (Cacareco), Roberto (Bode) e José Mário (Cafo). Era a turma do Dom Amando que encontrei por lá.
Ataualpa, Manuel e João Moraes, Arinos, Licurgo, Lelé, Xavier, Truira, Miguel Silva (Coruja), Nato, Pedroso, Beija, Traca, Pirocó, Carlos Lemos, Cesário (Teibei), Luis Carlos Botelho, Vilote, Antônio Marcião, Juvenal Pachá, Da Silva, Juarez, completavam o plantel. Peço desculpas aos que esqueci de citar.
No dia 18 de agosto de 1964, com 16 anos, estreei no estádio Aderbal Corrêa contra o Náutico. Vencemos por 2x1, gols do Nelson e Ataualpa. Vilote; Praxedes, Lelé, Xavier e Truira; Cristovam Sena e Zé Aurélio; Beija, Nelson, Ataualpa e Traca. Foi a escalação do América nesse jogo.
Para o campeonato de 1965 Márlio Cunha utilizou outras formações, sendo a mais constante: Nato; Roberto, Praxedes, Miguel e Truira; Lulu e Cristovam Sena; Nelson, Ataualpa, Tovica e Manuel Moraes.
Com esse time, já em 1966, na reta final do campeonato de 65, vencemos o São Raimundo por 3x1, gols do Ataualpa (2) e Manuel Moraes (1). Isso no dia 26 de fevereiro. E no dia 13 de março derrotamos o São Francisco por 4x1, gols do Manuel Moraes (1), Ataualpa (1) e Tovica (2).
Para esses dois jogos contra a dupla RAI-FRAN, como os jogadores oriundos dos outros municípios passavam férias escolares com as famílias, Manuel Moraes fretou um teco-teco para ir buscar a turma em Monte Alegre e Oriximiná. Do antigo aeroporto passavam direto para o Aderbal Corrêa, trocavam de roupa no estádio. A pista do aeroporto, transformada na atual Av. Anísio Chaves, ficava relativamente perto do Aderbal Corrêa.
O último jogo do campeonato, o do título, foi contra o já eliminado Flamengo, no dia 20 de março. Vencemos por 7x0, gols do Truira (1), Tovica (1), Manuel Moraes (2) e Ataualpa (3). Roberto e Praxedes não jogaram. Se não estou enganado, tiveram de viajar para o vestibular de medicina em Belém. Foram substituídos pelo Pedroso e João Figueira.
Márlio Cunha mandou a campo: Nato; Pedroso, João Figueira, Miguel e Truira; Lulu e Cristovam Sena; Nelson, Ataualpa, Tovica e Manuel Moraes.
Detalhe: esse jogo final também era decisivo para as pretensões do São Raimundo. Se perdesse o jogo, o América teria que disputar o título com o próprio São Raimundo, time do prefeito e diretor do SESP, Dr. Everaldo Martins que, de forma indireta, resolveu tentar interferir no resultado da partida.
Levou o time do Flamengo para treinar no SESP, com direito a mingau de aveia e vitamina após os exercícios físicos. Com poder na Liga, mandou buscar o Sena Muniz, árbitro da Federação Paraense de Futebol para dirigir a partida. O América já tinha jogado outras decisões em que foi prejudicado pela arbitragem local, a vinda de árbitro de fora deixou nossa turma ressabiada, de orelha em pé.
Vitaminados, os jogadores do Flamengo entraram em campo com as preleções do prefeito martelando nos ouvidos. Envolvido por esse clima de decisão criado pelo São Raimundo, o zagueiro Quebra acabou sendo expulso pelo Sena Muniz, após entrada forte no Tovica.
O primeiro gol custou a sair. Surgiu de jogada individual do malabarista lateral esquerdo Truira, que saiu da defesa driblando e foi parar dentro do gol. Os outros seis vieram em cascata. Aborrecido com o massacre que presenciava no Aderbal Corrêa, Dr. Everaldo Martins deixou o estádio ainda no primeiro tempo.
Do time campeão oito concluíram estudos universitários. Roberto e Praxedes em medicina; Lulu em medicina veterinária; Nelson em engenharia civil; Ataualpa em direito; Tovica e João Figueira em engenharia agronômica e eu em engenharia florestal. Se naquela época era difícil encontrar um time (profissional ou amador) com essa linhagem acadêmica, imagina nos dias atuais.
Desse plantel do América ninguém seguiu a carreira de jogador profissional por muito tempo, todos preferiram continuar os estudos. Praxedes jogou no Remo; Tovica, Palito (engenheiro civil) e eu jogamos no Paysandu. Os outros que foram estudar fora, por circunstâncias diversas, não experimentaram o profissionalismo.
Fora de campo, o América possuía nomes que ficaram marcados pela dedicação ao clube e ao esporte santareno: Manuel de Jesus Moraes, Raimundo Ivan Vasconcelos, Dr. Wilson Leite Maia, Lahire Cavallero, dentre outros que fizeram do América referência em Santarém, sendo denominado de “a elite do futebol santareno”.
Com o advento do "profissionalismo" o América passou a ter dificuldades na manutenção da equipe no campeonato. Até parar de disputar o certame municipal em 1976, encerrando suas atividades esportivas. O tempo passou. No dia 13 de agosto de 2.004, por iniciativa do saudoso Ivan Toscano, antigos associados, atletas e torcedores do clube se reuniram em Assembléia Geral Extraordinária realizada no Centro Recreativo, para decidir sobre o seu destino, se continuaria com suas atividades ou seria extinto. Por unanimidade de votos a assembléia decidiu pela extinção definitiva do América Futebol Clube.
Por ironia do destino, nessa reunião do dia 13 de agosto de 2004, fui eleito para ser o último Presidente do América, com a missão específica de proceder o encerramento das atividades do Clube. Fiquei responsável em dar destino ao patrimônio do Clube, na forma do Art. 17, letra”d” dos estatutos sociais.
Mas isso é outra história!
Assim, das três datas mais importantes do América Futebol Clube: fundação, título inédito e extinção, participei diretamente de duas.
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