27.08.2008 - A SEMÂNTICA DO PODER
“A única coisa permanente no universo é a mudança”.
Proferida há vinte e cinco séculos, no começo essa afirmação do filósofo grego Heráclito (540 a.C. - 470 a.C.) foi recebida com desconfiança, até ser aceita como verdade definitiva, sendo passada e repassada de geração a geração.
Complementando o filósofo, acrescento que algumas mudanças são facilmente percebidas por todos, enquanto outras, pelas sutilezas que apresentam, precisam ser observadas e estudadas com atenção, para serem bem identificadas e compreendidas. A simples troca de palavras pode, muitas vezes, ser a senha para se reconhecer essas mudanças dissimuladas.
Basta compararmos as notícias políticas de antigamente com as de hoje para termos uma idéia do que estou dizendo. Em 1956, a revista semanal Manchete noticiava que a primeira fala do Presidente Juscelino Kubtitschek após “assumir” o governo foi de otimismo. Naquela época, conferidos os votos, os vencedores “assumiam o” governo.
Com o decorrer dos anos a mídia trocou a palavra assumir por “tomar posse”. Apurados os votos, os vencedores agora “tomam posse do” governo. Literalmente.
Para muitos pode parecer uma simples e casual questão de semântica, de troca de vocábulos. Acontece que essa troca carrega em si um significado terrível para a Nação Brasileira, principalmente para o seu erário. O vocábulo assumir está associado à responsabilidade. Enquanto posse está associado a negócio particular.
Os cartões de crédito corporativos dos Ministros em Brasília e os assentamentos do INCRA no Oeste do Pará, dentre outros casos escabrosos, são recentes e servem para ilustrar o que digo.
O território brasileiro é composto de 5.564 municípios. Daqui a alguns meses teremos eleições para prefeito e vereadores nesses municípios. Todos serão escolhidos pela vontade popular. Todos “Tomarão posse do” governo. A maioria administrará como se dos municípios fossem donos, transformando-os em negócios particulares. Acredito que essa mudança aconteceu sem precisar de regras específicas e vem ditando o comportamento dos que hoje entram na política. As exceções existem para confirmar a regra.
Para uma nova mudança será preciso alterar o comportamento político dos eleitores e dos partidos. O caminho para essa mudança passa, necessariamente, pela educação e o pleno exercício da cidadania, tendo como aliada a imprensa independente que tem a obrigação de fiscalizar e denunciar os atos de improbidade praticados pelos políticos nas três esferas administrativas: municipal, estadual e federal.
Não devemos nos iludir e esperar que isso aconteça da noite pro dia. É um processo lento, demorado, indesejado pelos próprios políticos.
Até chegar onde está, o Partido dos Trabalhadores nos dava a impressão de que seria o catalisador desse processo. E que através dos seus exemplos, apurados os votos, os eleitos voltariam a “assumir o” governo.
Infelizmente isso não vem acontecendo.
Azar do Brasil!
Escreva um comentário