João Veiga dos Santos (1925/1987) nasceu em Santarém. Pesquisador por vocação, construiu respeitável arquivo relacionado à História da cidade e região, contendo documentos preciosos que, infelizmente, estão fora do alcance dos historiadores/pesquisadores de hoje.
Publicou cinco livros - que podem ser encontrados na biblioteca do ICBS. O primeiro em 1978, que faz parte da coleção "História do Pará", série Arthur Vianna, editado pelo Conselho Estadual de Cultura, intitulado "Monsenhor Frederico Costa - 1º Prelado de Santarém".
Em 1980, a convite do prefeito de Monte Alegre, Major Antônio Carlos Nunes, publicou "Crônicas do Monte", em comemoração ao centenário da terra "Pinta Cuia". Depois vieram: "Apontamentos para a história da Igreja Santarena", em 1982; "História do São Francisco Futebol Clube", em 1985, edição patrocinada pelo presidente do clube da época, Benedito Guimarães, em comemoração ao 44º aniversário do Leão Azul santareno; e "Cabanagem em Santarém", de 1986, que teve o patrocínio de Manoel Vitório Machado.
Para o poeta Emir Bemerguy (1933/2012), "João Santos era um historiador melhor que o próprio Paulo Rodrigues dos Santos. O velho Paulo era meu amigo particular, e ele mesmo dizia que era muito mais memorialista do que historiador. Ele se fiava muito nas lembranças pessoais, não era muito ligado em arquivos, em documentos, já o João absolutamente não fazia isso, o João quando publicava um trabalho ele procurava fundamentar.
"O João deixou seu rastro na história. A única vez que eu visitei a casa dele ele me levou pra ver o seu arquivo. Eu voltei de lá assombrado com a organização. Eu já conhecia o arquivo dele na secretaria da Diocese, mas ele me levou lá na residência e eu voltei maravilhado e assombrado com o acervo que ele deixou. Eu não sei até onde e como a família conserva aquilo.
"Só que como toda regra tem sua exceção, aquele livro que ele fez sobre o São Francisco ele escreveu com o coração, ele não escreveu com a razão. Eu fiz a revisão do livro e ali eu mesmo achei que ele puxou muita brasa pro são Francisco. Parece-me que o único trabalho do João que se pode discutir que ele não fundamentou com precisão foi aquele livro". Afirmações de Emir Bemerguy no livro "Emir, pescador de almas e tucunarés", editado pelo ICBS em 2013.
Com relação a esse livro do São Francisco, o próprio João Santos explica no prefácio intitulado "Como nasceu esta História do São Francisco Futebol Clube?", as dificuldades encontradas com a falta de documentos para subsidiar seu trabalho:
"Lamento que não tenha encontrado no arquivo do clube os elementos indispensáveis. Grande parte desse arquivo está perdido para sempre. Infelizmente também não encontrei nos arquivos da Liga Esportiva de Santarém, aquelas informações que esperava, que poderiam ser valiosas, como as 'súmulas' dos jogos realizados pelas competições promovidas pela LES, na sua maioria extraviados".
Ora, se mesmo com base em farta documentação alguns fatos ocorridos no passado são distorcidos quando os historiadores reescrevem a História, imaginem quando eles se encontram sem nada, ou quase nada nas mãos como fonte para reescrever essa História, como foi o caso do historiador João Santos com a "História do São Francisco Futebol Clube".
Assim, para que a realidade não se transforme em ficção, resolvi esclarecer alguns fatos descritos no livro que, por ter participado deles como protagonista, merecem que sejam aqui iluminados.
Vamos aos fatos. Vou me ater ao tempo em que joguei pelo América Futebol Clube, sendo campeão santareno em 1965.
Na página 191 do livro, está escrito: "Em 1965 registrou-se um fato inédito no esporte santareno, os dois clubes, São Raimundo e São Francisco perderam a hegemonia em nosso futebol para o América Futebol Clube, que conquistou brilhantemente o título de campeão. Segundo opiniões não desprezadas, o América teria sido ajudado pelo São Francisco..." - Se foi ajudado pelo São Francisco, o América não conquistou o título de 1965 brilhantemente, não acham!
Prosseguindo na mesma página: "Na última partida do time americano, enfrentando o São Francisco, teria acontecido a propalada ajuda. Se o São Francisco chegasse a empatar ou vencer o América, o campeão seria o São Raimundo que ficaria na condição de tri-campeão. Aconteceu que o São Francisco perdeu o jogo para o América que se sagrou campeão".
Vamos novamente aos fatos: A última partida do América no campeonato não foi contra o São Francisco, e sim contra o Flamengo, no dia 20/03/1965, quando derrotamos os rubro-negros por 7x0. Antes, tínhamos vencido o São Raimundo por 3x1 e o São Francisco por 4x1.
Para arrematar os comentário sobre o campeonato de 1965, escreveu o historiador João Santos: "Na verdade, o time do América tinha excelentes jogadores e uma linha média de alto nível onde 'Bidala' e Manoel Moraes, impunham sua grande capacidade. Apesar de tudo, o time do América tinha categoria para ser campeão".
O detalhe nesse parágrafo final é que em 1965 o Abdala não era jogador do América, por isso não foi campeão. Durante a leitura do livro "História do São Francisco Futebol Clube" constata-se que em alguns fatos o historiador foi traído pela memória dos seus informantes. Clube e Liga não se preocuparam em preservar suas histórias. A preocupação com a preservação dos arquivos de uma cidade, instituição ou família deve ser constante, em função da necessidade de salvaguardar as suas memórias, instrumento primordial para os pesquisadores. Preocupação que o historiador João Santos manteve acesa durante toda sua vida.
O livro do São Francisco não diminui nem desmerece o grande historiador que foi João Bento Veiga dos Santos, um dos maiores de Santarém.
No "Meu baú mocorongo", volume 5, maestro Isoca assim se refere a ele: "Assim como ajudou a crescer a nossa História, ele cresceu na História de sua terra. O reconhecimento pelos serviços prestados está perpetuado no ato de 11/03/1977 do Governado Jader Barbalho, em solenidade presidida pessoalmente, denominando a Casa da Cultura de Santarém de Casa da Cultura Historiador João Santos".
Infelizmente, até hoje, não existe nenhuma identificação no prédio informando, para quem passa pela Av. Borges Leal, que ali funciona a Casa da Cultura Historiador João Santos. Uma pena!
Escreva um comentário