Professor Nicolino Campos
Meu convívio com o mestre Nicolino Campos teve início na década de 1960, quando fui seu aluno de português no Ginásio Dom Amando.
Em 1998, quando foi para editar o livro do Eymar Franco, "O Tapajós que eu vi", o convidei para ser o revisor. O que fez com a maior satisfação, por gostar do convite e ser amigo do Eymar.
Passei a visitá-lo em sua residência e a conhecer mais de perto o homem Nicolino, com suas idiossincrasias.
Certo dia recebo um recado do professor, queria conversar comigo. Fui até a sua residência na Av. Rui Barbosa. Estava com 71 anos de idade.
O encontrei insatisfeito porque o jornal Impacto não tinha publicado sua coluna da semana. Na época era articulista do jornal, juntamente com Lúcio Medeiros e Wilde Fonseca.
Sua conversa me surpreendeu, me convidava para editarmos um jornal e não foi fácil convencê-lo da inviabilidade daquela proposta.
No ano seguinte comprou um computador 486 e ficou empolgado com a máquina. Tinha muita coisa já escrita para digitar. Com o computador ganhou novo ânimo para escrever. Aos sábados, no início da manhã, ele e o Eymar Franco vinham para o ICBS estudar informática. Antes de entrarem na sala de aula eu aproveitava para conversar e aprender com os dois.
Em outra ocasião me disse que estava com intenção de publicar um livro. Em conversa com outros escritores santarenos, Nicolino recebeu o incentivo definitivo de que deveria perenizar suas idéias através da publicação desse livro que já estava praticamente alinhavado, faltando somente o ponto final.
Pouco tempo depois ele nos levou três cadernos de 250 paginas cada, contendo os originais de “Era uma vez... um sonho”. Rute ficou encarregada de digitar o texto, a caligrafia do Nicolino, como a minha, era uma garatuja difícil de ser traduzida pelos não iniciados na arte de Jean-François Champollion.
A frase “sentei na grama macia”, foi traduzida pela Rute como "sentei numa grande bacia". A saída foi trazer o autor para decifrar os hieróglifos, o que, para nós, transformou-se em satisfação pelo fato de poder conviver com o professor por uns cinco meses seguidos.
Seu livro foi ilustrado pelo Laurimar Leal e prefaciado pelo Manuel Dutra. No dia 28 de junho de 2002 aconteceu o lançamento do "Era uma vez... um sonho". Festa bonita! Estava nervoso, mas feliz com a presença dos amigos e de todos os filhos, alguns vindo de Belém, outros de mais longe.
Em 2003 o ICBS editou seu segundo livro, "Coletânea de máximas, provérbios e pensamentos", onde reuniu mais de mil frases escritas ao longo de alguns milhares de anos por pessoas que fizeram e continuam fazendo a nossa história. Livro prefaciado pelo seu ex-aluno José Wilson Malheiros da Fonseca.
Editado seu segundo livro, minha próxima missão era entrevistá-lo para o Projeto Memória Santarena. Ele sempre fugia desse encontro, apresentando uma desculpa esfarrapada para adiar seu depoimento.
Dizia que se contasse o que sabia da política e dos políticos da terra, poderia provocar reações desagradáveis de pessoas consideradas amigas, que ele preferia evitar.
Filho do capitão do Exercito Sylvio Solano Correa Campos e da cirurgiã-dentista Dra. Nicolina Castriciana de Castro Campos, Nicolino nasceu em Belém no dia 7 de maio de 1928.
Cursou a casa de formação religiosa “Seminário Metropolitano de Nossa Senhora da Conceição”, em Belém, onde fez o primário e ginasial. Em 1974 concluiu o Curso de Filosofia, área de Letras da Universidade Federal do Pará, sendo o orador da turma.
Começou no magistério em 1951 como professor no colégio Salesiano Nossa Senhora do Carmo, em Belém. Em Santarém, lecionou latim de 1954 a 1958 no Colégio Santa Clara. Em 1959 passou a lecionar português, francês e história no Ginásio Dom Amando.
Foi também professor de história geral na Escola Comercial Rodrigues dos Santos, curso noturno, onde lecionou nos anos de 1959 e 1960. Em 1964 foi nomeado pelo Governador Jarbas Passarinho como Diretor do Colégio Álvaro Adolfo da Silveira.
Na política santarena Nicolino Campos teve ativa participação. Em 1954, disputou pela UDN as eleições para vereador, ficando como primeiro suplente. Em 1958 volta a se candidatar e é eleito o vereador mais votado, chegando a presidente da Câmara Municipal em 1961. Nesse mesmo ano assumiu por várias vezes, interinamente, a Prefeitura Municipal de Santarém.
Em 1966 candidata-se a Deputado Estadual pela ARENA, sendo o Deputado mais votado de Santarém e do Baixo Amazonas. Em 1970 foi eleito Presidente do Diretório Regional da ARENA. Trabalhou com Jarbas Passarinho no Gabinete do Ministério da Educação e Cultura, em Brasília, em 1971 e 1972.
Dentre outras atividades exercidas, Nicolino Campos foi Supervisor do jornal “O Baixo Amazonas”, Diretor do “O jornal de Santarém”, cronista do “O Impacto”, membro do Conselho Consultivo da Radio Rural de Santarém e gerente administrativo da Rádio e Televisão Tapajós.
No esporte foi presidente do São Raimundo Futebol Clube, tendo atuado na Liga Esportiva de Santarém, no Fluminense Futebol Clube e no São Cristóvão Futebol Clube.
Esse Nicolino Campos ativo, questionador, de mente irrequieta que conheci no início da década de 1960, começou a apresentar sinais do mal de Alzheimer em 2009.
Como quem não quer nada, foram chegando outras complicações, o quadro foi se agravando e na madrugada do dia 29 de abril de 2015 aconteceu o desenlace.
Nicolino faleceu aos 86 anos, deixando vazia a cadeira número 26 da ALAS, Academia de Letras e Artes de Santarém.
No dia 24 de setembro a ALAS organizou a Sessão da Saudade em memória de Nicolino Campos e Éfrem Galvão. Merecida homenagem que a Academia prestou aos dois escritores, pena que não foi prestigiada pelos próprios Imortais.
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