Graça Gonçalves
O colunismo social nos jornais teve início no Rio de Janeiro, a capital federal, pelos idos de 1940.
Naquela época, bem mais do que hoje, existia uma abissal separação entre pobres, remediados e ricos. Os colunistas não permitiam a presença de pobres ou remediados nas suas colunas, só grandes empresários e diplomatas eram noticiados.
O colunismo social, na prática, resumia-se a informar as festas de casamento dos ricaços.
A partir dos anos 1950, o colunismo social sofreu grandes transformações com a chegada de Jacinto de Thormes e Ibrahim Sued, que passaram a comentar sobre a vida dos famosos e ricos da época.
Os dois, com essa mudança, passaram a frequentar os mais concorridos eventos, a conviver com o poder, ganhando mais notoriedade. O dinheiro deixou de ser a única exigência para frequentar suas colunas sociais.
Bastava ser gente bem relacionada, cultivar boas maneiras, um mínimo de cultura para estar presentes no colunismo da década de 1950. Se, além desses predicados todos, fosse rico, melhor!
Em Santarém o pioneiro no colunismo social foi Wilson Fonna, que noticiava as festas de casamento, aniversário e batizado, ao lado de notícias sobre os políticos da época, pelas páginas do Jornal de Santarém. Começou na década de 1960, com raras fotografias.
Graça Gonçalves veio na esteira de Wilson Fonna, iniciando em 1975 a publicar na "A Província do Pará", dos Diários Associados, sua primeira coluna semanal.
Passou depois pelo Jornal de Santarém, Jornal A Gazeta e Diário do Pará. Sempre registrando seus eventos com fotografias clicadas por Edson Queiroz e Alfonso Jimenez, famoso Peruano.
Eventos que marcaram época na cidade, dentre eles, o Baile dos Namorados, Prêmio Gente Destaque e Personalidades do Ano. Além de almoços beneficentes.
Meu relacionamento com a Graça se deu fora das colunas sociais. Eu não frequentava o Centro Recreativo. Nossa aproximação aconteceu por meio dos amigos comuns que tínhamos no Dom Amando e no time de futebol do América, considerado clube da elite.
Vivemos alguns bons momentos que guardo através de fotografias e filmagens.
Em 1995, a convite do coronel Wilson Rego, fomos de teco-teco pilotado pelo Darlan, jogar em Altamira. Os peladeiros da COSANPA contra os peladeiros amigos do coronel Wilson. Ficamos alojados no quartel de polícia. Nossa turma era composta por 14 homens e uma mulher, a Graça Gonçalves, que aceitou convite do Wsnand.
Eduardo Pinheiro, Emanuel Campeão, Guara, Silva, Orlando Rui, Waldomiro, Adil, faziam parte da comitiva.
Aos 47 anos me senti como aluno em colônia de férias escolares. Não lembro o resultado do jogo, mas lembro bem das brincadeiras que promovemos em parceria com a amiga Graça, sempre alegre, bem disposta, engrossando o caldo quando tinha que engrossar.
No período do Festival de Parintins, nos dias de sábado, nosso encontro era na casa do Hoyama, onde as toadas dos bois eram tocadas e cantadas a exaustão.
Algumas vezes apareciam os grupos de Parintins que vinham se apresentar em Santarém, na Babilônia e outros clubes da cidade, e a farra corria solta.
Graça Gonçalves participava do embalo, torcia pelo Garantido, boi da maioria dos que frequentavam a casa do Hoyama. O cigarro era seu companheiro dessa e de todas as outras horas.
Graça Gonçalves marcou época no jornalismo santareno. Dedicou 43 anos da sua existência ao colunismo social. Tornou-se personagem singular, conseguiu construir tanto sua própria história como histórias alheias, promovendo bailes, distribuindo prêmios, homenageando pessoas.
Hoje o colunismo social dos jornais impressos perdeu seu glamour. Deixou o registro exclusivo dos acontecimentos do "high society", passou a noticiar política, economia, esportes, em busca de novos seguidores fora do ambiente que imortalizou Ibraim Sued e João Fonna.
Vem sendo substituído pelo facebook.
Graça faleceu ontem, oito de maio, no Hospital Regional, aos 67 anos.
.
O ICBS guarda em seu acervo fotográfico boa parte das fotografias que ilustraram suas colunas no Jornal de Santarém e Gazeta. Estou pensando em criar um espaço na página do ICBS na internet e, aos poucos, publicá-las para serem apreciadas pelos(as) socialites, seus fãs.
Escreva um comentário