Copa da Rússia - 20 de julho de 2018


Copa da Rússia

A Copa acabou, mas os comentários sobre a derrota do Brasil e o fiasco do Neymar continuam, quase sempre acompanhados de uns goles de cerveja. Fui incentivado a escrever algo sobre o assunto, acabei pegando corda de amigos.

Primeiro o Tite. 
Praticar aquilo que aconselha não é pra todo mundo. Entre o falar e o fazer cabe um oceano de incertezas e conveniências. 
O técnico da seleção brasileira ilustra o apego que nutrimos pelas nossas conveniências. 
Antes da Copa, em 2012, quando dirigia o Corinthians, deu entrevista coletiva após um jogo contra o Santos, criticando o cai-cai do Neymar. 
Chegou a afirmar que ele era mau exemplo para os jovens que estavam iniciando a carreira de jogador de futebol, e para as crianças que o admiravam como ídolo.

Agora na Rússia, no dia seguinte a eliminação para a Bélgica, a comissão técnica veio para a entrevista coletiva defender o cai-cai do Neymar. Nenhuma reprimenda ao atleta. 
O coordenador da seleção Edu Gaspar - com conhecimento do Tite - nos disse que não é fácil ser Neymar, que chega até a sentir pena dele. Que tudo o que ele faz é criticado e elogiado. Se ri, se chora, se não dá entrevistas é elogiado e criticado.

Tite mudou ao assumir a seleção, teve que conviver e aceitar o exibicionismo do Neymar, estrela maior da constelação brasileira. Deu uma bicuda na coerência e foi paparicar seu ídolo. 
Aquele corte e pintura do cabelo na estreia contra a Suíça, foi ridículo. Fico a pensar no técnico João Saldanha (1917/90), o botafoguense "João sem Medo", creio que teria colocado Neymar pra fora do vestiário e os dois cabeleireiros do jogador de volta para o Brasil. 
Além de paixão futebol é espetáculo, mas não circo com palhaço mambembe.

Ninguém pode negar que a seleção brasileira ganhou novo padrão com a chegada do Tite. O time melhorou. 
Em certos momentos, as circunstâncias que rodeiam os fatos são tão ruins que é quase impossível piorar.

A seleção vinha de um desastre comandado pela dupla Felipe Solari e Parreira, em 2014, que culminou com os 7x1 da Alemanha e os 3x0 da Holanda. 
A dupla foi substituída pelo Dunga, que nas eliminatórias estava levando o Brasil a ficar fora da Copa de 2018. Fato inédito na história das Copas.

Com a chegada do Tite as coisas mudaram, os resultados positivos apareceram e a imprensa passou a enxergar no treinador poderes messiânicos. 
A classificação em primeiro lugar nas eliminatórias representou um cheque em branco para Tite, que tornou-se o líder iluminado que iria reformar e dar nova ordem à seleção brasileira. 
Poucos contestavam as suas convocações, a escolha de tantos jogadores medianos no mesmo time.

No final, o discurso de Tite, da comissão técnica e dos jogadores, de que perderam com dignidade, que o trabalho foi bem feito e que caíram de pé e que o "aleatório" decidiu o jogo, não colou. 
Perderam a oportunidade de desembrulhar a derrota, mostrar a realidade do futebol brasileiro que fazem questão de encobrir, de não ver.

Depois do tri em 1970 no México, das doze copas disputadas o Brasil venceu apenas duas, 1994 e 2002.
Segundo tese defendida pelo João Saldanha, passada a ressaca da segunda guerra mundial (1939/45), quando a juventude europeia foi praticamente dizimada nos campos de batalha, eles iriam dominar o futebol mundial. 
A tese do João está se confirmando, das últimas doze copas disputadas venceram oito.

Enquanto isso o Brasil que já era exportador de comodities agrícolas e minerais, passou a exportar adolescentes de chuteira para a Europa.

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