Lúcio Flávio Pinto: 70 anos
O santareno Lúcio Flávio Pinto completa hoje, 23 de setembro, 70 anos.
Para quem quiser conhecer o jornalista Lúcio Flávio Pinto, no seu embate em defesa da Amazônia contra grileiros, madeireiros, empresários, políticos, intelectuais e poderosos em geral, recomendo a leitura do livro “O Jornalismo na Linha de Tiro”, editado em 2006.
Seu Jornal Pessoal, publicação alternativa, circula em Belém desde 1987.
É bom lembrar que o JP surgiu em virtude do Lúcio não conseguir publicar nos principais jornais da capital, a matéria investigativa que produziu sobre o assassinato do ex-deputado Paulo Fonteles.
O envolvimento de dois empresários como suspeitos de mandantes do crime, ambos importantes anunciantes na grande mídia, fechou as páginas da imprensa para o Lúcio.
Em 1977, por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu o prêmio Colombe D’oro per La Pace, em Roma.
Em 2005, em Nova York, o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos.
Ele foi o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras, em 2014.
Além disso, recebeu quatro prêmios Esso e dois FENAJ, da Federação Nacional dos Jornalistas. E alguns outros que não recordo agora.
Não convivi com o Lúcio em Santarém, de onde saiu ainda criança. Em Belém acompanhei seu trabalho através dos seus escritos na imprensa local. Passei a visitá-lo em sua residência na Aristides Lobo.
Em 1993, no dia 22 de maio, um sábado, em companhia do seu amigo Carlos Meschede, veio conhecer o ICBS.
Filho do ex-prefeito Elias Pinto, dentre seus assuntos preferidos estão política e Amazônia. Mostrei-lhe alguns depoimentos do nosso Projeto Memória Santarena e tirei cópias de documentos de seu interesse.
No outro dia voltamos a conversar, ganhei de presente o livro "Amazônia a fronteira do caos", editado em 1991, com a dedicatória: Para o Cristovam Sena, como estímulo ao seu trabalho pela memória de Santarém.
O convidei para prefaciar o livro do Eymar Franco, "O Tapajós que eu vi", primeiro livro editado pelo ICBS, em 1998.
No ano seguinte prefaciou "Tupaiulândia", em sua terceira edição.
Sempre que vou a Belém levo os livros que editamos para presenteá-lo. Recebo em troca os da sua lavra.
Ele me enviava religiosamente o seu Jornal Pessoal. O JP, ainda hoje, é o que há de melhor na imprensa paraense, para quem quer saber o que realmente acontece nos bastidores do governo e dos grandes projetos instalados na Amazônia.
Inteligente, independente, atualizado, íntegro, Lúcio merece o respeito de todos e é reconhecido mundialmente pela sua luta em defesa da Amazônia.
Em maio de 2006, o jornal "O Estado do Tapajós" editado pelo Miguel Oliveira, dava início a publicação quinzenal do caderno produzido pelo Lúcio, denominado "Memória de Santarém". Em junho de 2010 os cadernos quinzenais foram reunidos e editados, dando origem ao livro "Memória de Santarém", impresso na Gráfica Tiagão, com 420 páginas, revisado e diagramado no ICBS. Com lançamento acontecendo no Museu João Fona.
A partir de 2007 começamos a digitalizar o JP. Depois que foi criada a página do ICBS (www.icbsena.com.br), um bom números das edições do Jornal Pessoal encontra-se a disposição dos interessados, a começar pelo nº 1, o do assassinato do ex-deputado Paulo Fonteles.
Ele mesmo postava o jornal para os assinantes fora de Belém.
No acervo da biblioteca do ICBS contamos com 33 obras do Lúcio Flávio, sendo que em 10 consta no título a palavra Amazônia.
O mais antigo deles é "Jari, toda a verdade sobre o Projeto Ludwig", de 1986. É coautor de outras publicações coletivas, dedicadas à Amazônia e ao jornalismo.
Recebeu o Prêmio Wladimir Herzog de 2012 pelo conjunto da sua obra.
Várias vezes encontrei-me com o Lúcio nos sebos de Belém. O mais frequente era o Relicário, do Anderson, quando ainda estava na Av. Presidente Vargas. Lúcio vasculhava as estantes do Relicário à procura de novidades antigas.
Outro sebo era o Cultura Usada, que fechou, que era do Carlos, perto da sua casa.
Em abril de 2006, pela manhã, passei pela sua residência para um papo com o amigo. Fui levando uma sacola com livros editados pelo ICBS.
Como eu tinha avisado que iria, ele preparou-me uma sacola contendo seus livros e jornais.
No início do ano passado, voltei a visitá-lo na Aristides Lobo. Encontrei operários trabalhando na casa, a enfrentar o inverno que estava forte em Belém.
Livros espalhados por todos os cantos, aos montes. Fiquei com dó do amigo. Segundo ele, em torno de 50 mil livros. Perguntei-lhe o que faz para encontrar um livro, quando precisa dele. Respondeu que a maioria sabe mais ou menos onde está, mas quando procura não os encontra.
Legítimo Workaholic, compulsivo e dependente do trabalho jornalístico que desenvolveu ao longo de mais de cinco décadas, agora em 2019 Lúcio foi advertido pelo médico de que deveria pisar no freio e cuidar da sua saúde, a fim de reduzir os danos do Mal de Parkinson, doença que foi chegando sem avisar nem pedir licença, e ficou.
Segundo o próprio Lúcio, a composição de stress com ansiedade e angústia, que o dominam, é um veneno para um parksoniano como ele.
Vida longa ao Lúcio Flávio Pinto! É o que desejo-lhe ao completar 70 anos de existência e 54 de jornalismo em defesa da Amazônia.
23 de setembro. Além do Lúcio, nasceram nessa data meu pai Boanerges Sena, que estaria completando 102 anos, e o ICBS, que hoje chega aos 38 anos de existência.
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