Recordar é viver - 22.02.2020


Recordar é viver

Essa época que estamos vivendo agora já foi batizada pelos jornalistas como "tríduo momesco".
Isso no tempo que meus pais eram jovens e cantavam Teu cabelo não nega, Chiquita bacana e outras marchinhas, que ainda hoje são tocadas nas festas carnavalescas.

Meu relacionamento com o carnaval foi passageiro.
Em Belém, quando estudante, saía com o saudoso amigo Aluísio Melo, acompanhando pelas ruas da capital o bloco Unidos da Vila Farah.
Nossa fantasia era uma latinha de cerveja na mão.

No Pará Clube nos divertíamos participando do Baile do Tigre, grande atração do carnaval de salão da época, organizado pelo colunista social Issac Soares.

Em Santarém vivi duas situações.
A primeira, antes de ir estudar em Belém em 1968, quando presenciei o surgimento do bloco carnavalesco "Breguelhegue", organizado por uma turma de rapazes que tinha no América Futebol Clube e na família Cunha sua base.

Lembro da música que a rapaziada cantava durante os desfiles pelas ruas da cidade, naquela época sem carros estacionados para atrapalhar a inocente brincadeira:

Lá vem, lá vem ele,
Trazendo a vitória na mão
Tem rapazes, tem meninos, tem mulher
Vai ver quem é, é o Breguelhegue.

A segunda quando retornei para Santarém em 1979, e tive oportunidade de participar um pouco mais do carnaval de rua pelo Breguelhegue, e de salão na sede da AABB.

Em 1988, no início do ano, recebi convite do amigo Wsnand Ribeiro para, em parceria, compormos o samba do Breguelhegue.

Como em junho aconteceria a Copa do Mundo na França, o tema escolhido foi o futebol.
Até hoje não sei porque ele me convidou, visto que nunca tinha tentado escrever, sequer, um verso de pé quebrado, até àquele momento.

Mesmo assim aceitei, mesmo sem ter intimidade com o dó, ré, mi. Como o tema do samba enredo seria o futebol, creio que esse foi o motivo do convite.

Além da amizade, claro!

Nosso QG de criação foi a Biblioteca Boanerges Sena. Wsnand chegou num sábado de manhã trazendo o violão debaixo do braço e um isopor, nossos objetos de inspiração.
O primeiro, dele; o segundo, meu.

Compadre Pinga Merabet e o Hoyama também participaram do processo de criação do samba enredo, colaborando no consumo das cervejas. Ficaram, também, responsáveis em reabastecer o isopor.

Como conheço a história da introdução do futebol no Brasil, fui buscar alguns elementos para nos orientar na criação do samba.
Assim surgiu a imagem de Charles Miller, estudante que trouxe a primeira bola para o Brasil em 1894; destacamos a importância dos esportes nas escolas, fato que ajudou a quebrar barreiras sociais e raciais através da sua massificação, culminando com o reconhecimento mundial de ídolos como Pelé, Nelson Piquet, etc...

A coisa foi ganhando corpo e depois de muita cerveja, já de noite, o samba foi finalizado, fruto de agradável transpiração.

Estava formada a dupla de um samba só.

O samba passou a ser divulgado nas rádios e televisão pelo compadre Pedro Paulo, baterista do Breguelhegue.
No dia do desfile nos reunimos no apartamento do Iça com a Sandra Costa, no edifício Barão de Santarém, todos vestindo a camisa do seu clube de estimação.

Descemos a Av. Rio Branco ao som do samba enredo "O Breguelhegue no esporte com amor", puxado pelo "Martinho da Vila", funcionário da COSANPA, onde ainda trabalha o amigo Wsnand.


Desde quando Charles Miller
Trouxe a 1ª bola pro Brasil
Que o esporte na escola virou moda
Onde o preto e o branco se uniu.

E o Breguelhegue!
Menino filho do América,
Vem pra avenida sambar
Aconselhar o jovem praticar
O esporte na terra e no mar

Tem Pelé, Nelson Piquet,
Maria Ester Bueno,
João do Pulo e você
Vem meu bem, sambar por favor
No bloco da vida
Esporte é saúde e amor.

A aventura musical de 1988 deixou saudades.


     


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