Tristeza, o Louro foi embora - 16.05.2020


Há dias que eu não sei o que me passa

Eu abro o meu Neruda e apago o sol

Misturo poesia com cachaça

E acabo discutindo futebol

Pois hoje, Vinicius, eu vou misturar amizade com tristeza, para falar de futebol.

Devo muito ao futebol. Não ganhei dinheiro, mas facilitou-me a vida, conquistei amigos através dele.

Joguei somente cinco anos em Santarém pelo América (1964/68) sendo campeão em 1965. E um ano e meio em Belém pelo Paysandu, sendo campeão em 1969. Em 1970, aos 22 anos, desiludido com as constantes contusões no joelho direito, abandonei a carreira de jogador profissional. 

Ao unir pessoas, o futebol é muito mais que um esporte. Cria laços afetivos, nos aproxima, nos permite ser feliz e compartilhar felicidade. Esse texto, escrevo em homenagem a um amigo que conquistei através do futebol, em Belém. Após ter abandonado o Paysandu, passei a brincar no  Pará Clube, que disputava a Mini Copa de Pelada, organizada pelo O Liberal, isso em 1974. Torneio que conquistamos, nesse ano.

Sem precisar forçar nos treinos e jogando só nos finais de semana, mesmo sentindo o joelho lesionado, dava pra brincar. 

Era uma turma de primeira linha, dentro e fora de campo. Dentinho, Chorão, Tigre, Louro, Paulinho, Serginho, Faca, Ercílio, Simão Campos, Waltinho, Leoni, Pinga Merabet...

Após o futebol retornávamos para a sede do Pará Clube, na Lomas Valentinas, quando tinha início a resenha do jogo, que não tinha hora pra terminar. A cerveja fazia parte dessas resenhas.

Durante essa minha convivência com o grupo de peladeiros, que durou três anos, criei admiração por um deles. Pelo seu jeito de ser que transmitia seriedade e retidão de caráter. Era de estatura mediana, forte, praticava artes marciais, evitava brincadeiras, mas não era turrão. Esse peladeiro de personalidade forte era o Antônio Gomes, conhecido por todos como Louro, Antônio Louro.

Criamos afinidade, várias vezes foi me apanhar na república dos santarenos, na Vila Farah, aos sábados, e me levava para o Pará Clube. Possuía uma loja de revenda de carros, onde trabalhavam os peladeiros Paulinho e Serginho.        

A última vez que tive o prazer de conversar com o Louro foi no dia 02 de maio de 2015, quando  visitei o amigo em sua loja. Relembramos algumas goleadas memoráveis que aplicamos nos tradicionais clubes de pelada de Belém, ABC e Fuzuê.  6x1 no primeiro, 7x3 no segundo. E o título da III Mini Copa de Pelada.

Ontem recebi a notícia de que o amigo Antônio Louro nos deixou. A tristeza bateu forte no peito, passei a recordar nosso tempo de peladeiros, ele lateral direito, sempre seguro na marcação e quando o jogo esquentava, aí que ele gostava mesmo, quando podia aplicar alguns golpes de karatê. Era jogador, treinador, massagista, roupeiro, o faz tudo do Pará Clube.

O Louro amigo, humano, de coração sempre aberto a ajudar as pessoas, partiu aos 75 anos, deixando saudades.

Guardarei boas lembranças de ti,  meu amigo!

O jornal O Liberal de ontem, assim anunciou a sua morte:

"Ex-presidente da Federação de Judô e Pará Clube, vítima da Covid-19, morre nesta sexta-feira.

O judô paraense, na realidade o desporto paraense, sofreu nesta sexta-feira (15) mais uma irreparável perda. Faleceu, vítima da Covid-19, o desportista Antônio dos Santos Gomes, conhecido no esporte local como Louro.

Antônio Gomes teve uma vida dedicada ao desporto belenense. Foi peladeiro, comandante de time, presidiu por várias gestões a Federação Paraense de Judô [Fepaju]. Também foi presidente do Pará Clube em duas ocasiões, além de atleta de atletismo sendo campeão da modalidade de salto com vara pelo Paysandu, clube do seu coração".


           


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