Colação de grau - 15.10.2020


Muitas coisas que utilizamos durante nossa existência possuem importância temporária. Com o passar do tempo são desprezadas, perdem a serventia e viram peças de museu.

Vou falar aqui de uma delas que usei - a máquina de escrever - que foi considerada como um dos grandes inventos do começo do século XX, e que foi desaparecendo aos poucos a partir dos anos 1980, quando os computadores foram disseminados.

Para trabalhar com as máquinas, algumas empresas exigiam que o funcionário fosse formado por uma escola de datilografia, não queriam contratar "catadores de milho", como eram considerados aqueles que escreviam com um ou dois dedos, olhando para as teclas a serem pressionadas.

Naquele tempo, um certificado de datilografia tinha que constar no currículo de quem procurava emprego nos bancos, escritórios e repartições públicas. Após terminar o curso médio, o diploma valorizava a pessoa no mercado de trabalho.

Mas existiam aqueles, e eram muitos, que não davam importância ao diploma.

No seu livro "Da preguiça como método de trabalho", o escritor gaúcho Mário Quintana (1906/1994) escreve: "... faço o meu trabalho criativo primeiramente a lápis. Depois, com o queixo apoiado na mão esquerda, repasso tudo a máquina com um dedo só."

Em Santarém, a primeira escola de datilografia que se tem notícia foi a franquia da Escola Pratt, nos meados da década de 1940, com seu curso técnico de datilografia que funcionava na residência da diretora da escola, Sra. Anita Fonseca de Campos, localizada na Tr. Francisco Corrêa.     

Em 1961, aos 13 anos, fui matriculado na Escola Pratt, recebi o número 107/61 na minha carteira de frequência. Fiz o Curso Técnico de Dactilografia, a professora se chamava Beatrice Dias Campos. Nossa primeira lição era teclar com a mão esquerda, sem olhar para o teclado, as letras "ASDFG".

Era só descer as escadarias do Frei Ambrósio que eu já estava na escola, que ficava em frente da padaria "A Soberana", do seu Antonico Vasconcelos, pai dos amigos de infância Zé Baldino, Manoel e Guilherme.  

Olhando na minha caderneta o mapa das provas parciais de velocidade, vi que fui classificado com o grau 4, e considerado um aluno sofrível. Conseguia datilografar apenas 26 palavras certas por minuto. Hoje, como as teclas dos computadores são macias, digitando com o punho apoiado na mesa e sem necessidade de mexer com o braço para mudar de linha, devo ter melhorado meu desempenho. Sem falar na mágica tecla "delete", a borracha que apaga nossos erros sem deixar vestígios, bem diferente das máquinas de datilografia. 

Mas, o importante, foi que  aprendi na Escola Pratt a digitar sem olhar para as teclas da máquina, habilidade muito útil que aumentou minha produtividade ao escrever com o computador.

Manuseando jornais antigos da hemeroteca do ICBS, deparei-me com uma nota publicada no jornal "O Baixo Amazonas", do dia 23 de janeiro de 1954, que registra a colação de grau de uma turma de datilografia da Escola Pratt.

Essa nota nós dá a dimensão da importância que tinha a escola para a sociedade santarena.     

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                                 Novos Dactilografos Formou a Escola Pratt

Teve lugar de 17, do corrente em a residência da Sra. Anita Campos, diretora da escola Pratt, a cerimônia da colação de grau de mais uma turma de dactilografos.

A mesa foi composta pelo Revd. Padre Manoel Albuquerque, Sr. Manuel Loureiro, paraninfo da turma, Sr. Wilson Fonseca inspetor da escola, duas auxiliares e a Sra. Diretora. Declarada aberta a sessão, uma das auxiliares foi convidada a ler a opinião de 2 ex-alunas, que se reportaram sobre o exame da turma que ora se diplomava. Seguiu-se então a entrega das cadernetas e diplomas aos novos dactilografos. Concedida a palavra a oradora da turma, falou a jovem Darci Teixeira de Castro, que discorreu sobre o valor de um dactilografo. Logo depois usou  a palavra o Sr. Manuel Loureiro paraninfo da turma, congratulando-se com a mesma, da qual era paraninfo. A seguir falou o Revd. Padre Manoel Albuquerque, que em um belo improviso, parabenizou a turma pela vitória alcançada. Todos os oradores foram unanimes em enaltecer os méritos da Sra. Diretora Anita Fonseca de Campos pelo bem que vem fazendo a Santarém, formando semestralmente, turmas de dactilografos.

Encerrada a sessão, todos foram obsequiados com umas farta mesa de doces e frios.

São os seguintes os novos dactilografos: Evandro Antonio Bentes de Oliveira, Darci Teixeira de Castro, Raimundo Vicente Queiroz, Cidônia Maria Ribeiro Hoyos, Darcy Matias Soares, Emanuel Vasconcelos, Felicidades, Cavalcante mais, João Sousa Oliveira, José dos Santos Bernardes, João Pedro Beek, José Manuel Paiva Diniz, Laíde Gonzaga de Oliveira, Maria Dulceíde Figueira de Vasconcelos, Maria Emilia Borges Vasconcelos Duarte, Maria Sônia Campos, Maria do Perpetuo Socorro dos Santos, Maria Lucidéa Coimbra Lobato, Maria de Lourdes Pereira, Maria Madalena da Silva, Reinaldo Leônidas de Almeida, Reimundo Dinomar Monteiro, Raimundo Furtado Rebêlo, Solimar Lopes de Vasconcelos.

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Precisamos estar atentos, assim como os objetos as pessoas também são passíveis de perder a serventia e, com o passar do tempo, serem desprezadas por se tornarem inúteis.

A inutilidade da mente é pior do que a do corpo. O cidadão não precisa envelhecer para a sua mente tornar-se, além de inútil, desprezível.

Basta olhar o curso da Historia!


     


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