Ilustrador de aves
Dia 28 de dezembro de 2020, recebi no ICBS a visita do artista santareno Edilson Pereira, exímio ilustrador de aves, veio acompanhado da sua esposa, professora Marinete.
Vieram para uma visita de cortesia trazendo um exemplar da revista "Atualidades ornitológicas" nº215 de maio/junho de 2020, editada em Londrina-PR, para enriquecer nosso acervo.
Nas páginas centrais da revista, sua esposa traça pequeno perfil do Edilson, com dez pinturas de aves ilustrando a matéria, que recebeu o título - Perfil: Edilson Pereira, ilustrador de Aves .
"A pintura de aves na vida do Edilson não aconteceu por acaso, pois desde a infância já lhe despertou interesse a harmonia das cores, a beleza dos cantos e a sofisticação dos ninhos, desde aqueles dos pequenos beija-flores até a arquitetura ousada do joão-de-barro.
Embrenhava-se nas matas da várzea para ver e ouvir o que mais tarde seria a inspiração para a sua pintura, as aves da Amazônia. Produziu um total de 458 telas, ficando ainda a grande maioria das espécies sem ser retratada por falta de recurso financeiro.
Natural da cidade de Santarém no Oeste do Pará, durante muitos anos pintava e vendia suas telas para turistas admiradores de aves e ornitólogos.
Hoje, aos 63 anos, Edilson precisou fazer um intervalo nessa atividade, para cursar Engenharia de Pesca na Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA onde tem como um dos seus principais objetivos a pintura de peixes da Amazônia."
Em maio de 2012 publiquei crônica sobre o Edilson Pereira no Blog do Jeso, intitulada "Voa, voa!", que republico por entender que o nosso Michelangelo precisa ser mais conhecido, para poder ser valorizado.
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No ano de 2003, fui procurado pelo Edilson Pereira. Veio conversar comigo no ICBS e aproveitou para mostrar-me algumas das suas produções na arte da pintura.
Até aquele momento não sabia que o vizinho – sua família mora na Trv. 15 de agosto – era artesão. Fiquei impressionado com o que vi. Pereira consegue representar de forma tão realista a natureza, que com sua genialidade produz ao mesmo tempo ciência e arte.
A representação da natureza faz parte de uma tradição que vem dos tempos em que os naturalistas viajavam pelo mundo em caravelas para conhecer e entender os segredos da fauna e flora, deixando em segundo plano o conhecimento do próprio homem da região perlustrada.
Alguns desses viajantes passaram pela Amazônia percorrendo enormes distâncias a procura do novo: novas sementes, novas espécies, novos rios, novas topografias, novos tesouros, vivenciando experiências inusitadas, e o resultado dessas viagens foram materializados em forma de diários, gravuras, crônicas, pinturas, desenhos, mapas.
Os pássaros representavam uma atração especial para esses cientistas, que traziam em suas equipes hábeis desenhistas, naquela época denominados riscadores, como Joaquim José Codina e José Joaquim Freire, que acompanharam o naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira na sua expedição científica “Viagem Filosófica pelas capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá”, no período de 1783-1792.
Outros dois riscadores famosos, mas que não passaram pela Amazônia, foram o francês Jean Jacques Audubon (1785-1851) notabilizado pela pintura de aves da América do Norte e o inglês John Goud (1804/1881), a quem é atribuído ter apresentado o periquito australiano ao resto do mundo.
Atualmente as irmãs Etienne, Rosália e Yvonne, da família Demonte, são a grande referência da pintura naturalista no Brasil. Ao trio de pintoras foram agregados André e Rodrigo, filhos de Etienne, que morreu no final da década de oitenta com 73 anos, e a prima Ludmyla, filha de Rosália.
Foi trabalhando com o ambientalista Augusto Ruschi, pintando os beija-flores que o ornitólogo estudava em seu refúgio ecológico no município capixaba de Santa Teresa, que os irmãos ganharam notoriedade e reconhecimento no exterior.
Segundo eles, Ruschi era perfeccionista, tinha o hábito de medir à régua os beija-flores pintados para ver se tinham os exatos milímetros dos reais.
A pintura é preferida pelos botânicos e ornitólogos porque permite selecionar elementos, destacá-los e reproduzir formas e cores com fidelidade, importante para o reconhecimento da espécie.
Segundo os naturalistas, a pintura é mais fiel à realidade do que o próprio registro fotográfico, o que justifica a sobrevivência da parceria entre cientistas da natureza e pintores.
Pela qualidade do seu trabalho, Edilson Pereira, se não vivesse onde vive, seria tranquilamente um expoente nacional, reconhecido internacionalmente, a ombrear com os Demonte.
Mas, escondido sob o manto da indiferença coletiva, sobrevive sem conseguir expressar todo sentimento que pulsa quando manipula os pincéis, riscando e misturando cores que se traduzem em obras de arte de valor indiscutível.
Adquiri uma de suas obras, o pássaro “Surucuá de barriga-vermelha”, e dos pesquisadores que visitam o ICBS e se interessam pelo quadro, surgem logo rasgados elogios ao artista.
Perguntam pelo pintor, querem conhecer detalhes do Edilson Pereira.
A divulgação de sua obra através do Blog do Jeso é importante para mostrar ao mundo seu magnífico trabalho e, quem sabe, entreabrir as portas para que penetre a oportunidade que todo profissional espera que um dia chegue.
Michelangelo (1475-1564), após esculpir a estátua de Moisés,
considerada a mais perfeita escultura realizada pelo artista, surpreso com o resultado desse trabalho, teria batido com o martelo na estátua e gritado: “Parla, parla!”.
Admirando a perfeição do trabalho do Edilson no quadro “Surucuá de barriga-vermelha”, já tive vontade de tocar na ave Trogonidae e gritar: “Voa, voa!”.
O artista italiano foi protegido por Lourenço de Medici, por Alexandre VII e o Papa Júlio II.
O artista mocorongo é protegido pela providência divina.
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Comentando esse artigo, sua esposa Marinete Pereira escreveu:
"Certa vez em uma das exposições do Edilson em Alter do Chão, chegou um cidadão turista e observando minuciosamente aquelas pinturas achava que ali existia um truque, talvez um decalque colado naquela tela.
Não conformado o turista pediu pra que alguém do navio trouxesse uma lente para poder observar com mais precisão o detalhe da suposta fraude. O turista perdeu, rendeu-se ao talento do meu esposo.
Ao levar 05 telas despediu-se e se identificou como o Presidente da Multinacional STHILL! Ironicamente a vida nos prega estas surpresas.
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