O ato e o fato
Ato: a inauguração da Arena Estadual do Oeste do Pará.
Fato: meu envolvimento com o terreno do América onde foi construída a Arena.
O América Futebol Clube, fundado no dia 13 de março de 1947, representou durante a sua curta existência a terceira força do futebol santareno.
Disputou o campeonato amador até 1976, conquistando um único título, o de 1965.
No ano do título, o América era treinado pelo técnico Márlio Cunha e o time campeão tinha Nato no gol; a defesa com Roberto, Praxedes, Miguel e Truira; meio de campo formado por Lulu e Cristovam Sena; e o ataque Nelson, Ataualpa, Tovica e Manuel Moraes.
No dia 13 de agosto de 2.004, por iniciativa do ex-diretor Ivan Toscano, antigos associados, atletas e torcedores do clube se reuniram no Centro Recreativo em Assembleia Geral Extraordinária para decidir sobre o destino do clube, se continuaria com suas atividades ou seria extinto.
Por unanimidade de votos a Assembleia decidiu pela extinção definitiva do América Futebol Clube.
Nessa reunião fui eleito para ser o último Presidente do América, com a missão específica de proceder o encerramento das atividades do Clube.
Fiquei responsável em dar destino ao seu patrimônio, na forma do Art. 17, letra ”d” dos estatutos sociais, que diz o seguinte:
"O América Futebol Clube, só poderá ser dissolvido quando não puder absolutamente satisfazer o seu programa. Nesse caso, todos os seus haveres, depois de saldados os compromissos, reverterão em favor de uma instituição que será indicada pela Assembleia Geral."
O único bem que o América possuía era o terreno localizado na Av. Irurá, esquina com a Trav. Bauru, onde o time treinava e era utilizado pelos moradores do bairro de Aparecida.
Assim, começou a minha participação na história dessa área que ficou conhecida como "Campo do América".
Comecei a receber propostas de compra. Em seguida solicitei avaliação de três corretoras de imóveis para me orientar sobre o valor do terreno.
Desde o início eu estava indeciso em efetuar a venda do imóvel. Na minha opinião, a área deveria continuar a ser utilizada para a prática de esportes.
Tinha certeza que, concretizada a venda, o terreno iria abrigar um conjunto residencial ou comércio.
Quando via a quadra de esportes na Praça Manoel de Jesus Moraes, ao lado do Mascotinho, sendo utilizada pelos jovens jogando futebol de salão e basquete, a minha decisão de não vender o terreno do América se justificava e fortalecia.
Deixei o tempo passar. Em 2007 tomei a decisão de encerrar as negociações de venda do terreno e devolver a área para a prefeitura, que tinha doado o imóvel para o América em 1962.
Conversei com o advogado Rodolfo Geller sobre a minha intenção, e o convidei para participar de uma reunião com a prefeita Maria do Carmo, quando foi sacramentada a devolução.
Já em junho de 2011, fui procurado pelo deputado estadual Alexandre Von para conversarmos sobre o terreno do América.
O governador Simão Jatene tinha se comprometido a construir um Centro de Convenções em Santarém, para cinco mil lugares, e estava a procura de um local para a obra.
Expliquei ao Alexandre que eu já tinha devolvido o terreno para o município, que ele podia entrar em contato com a prefeita Maria do Carmo e conversar diretamente com ela a respeito do Centro de Convenções.
No dia 28 de outubro do mesmo ano, recebi nova visita do deputado Alexandre Von. Veio acompanhado do secretário estadual de obras públicas, Joaquim Passarinho, e a conversa girou sobre o terreno do América.
O estado estava investindo na construção de duas unidades integradas da polícia na região, uma na vila de Alter-do-Chão e outra em Mojuí dos Campos, e eles vieram assinar a ordem de serviço em Santarém.
Aproveitaram a ocasião para conversar com a prefeita Maria do Carmo sobre a construção de um Ginásio Poliesportivo em Santarém e a área escolhida para a obra foi o terreno que pertencia ao América.
Depois desse encontro com a Maria do Carmo, no dia 02 de abril de 2012, entrou em vigor a Lei municipal Nº 18905, que dispunha sobre autorização ao poder executivo para alienar, por doação com encargos, imóvel público ao governo do Para.
A mesma Lei, no seu artigo 5º, revogava a Lei Municipal 1.841 de 11 de junho de 1962, que tratava do título de aforamento perpétuo e gratuito desse imóvel ao América Futebol Clube.
Tudo certo com relação ao terreno, Alexandre pediu-me sugestões sobre o nome para o Ginásio Poliesportivo. Ele pretendia propor na Assembleia o nome do futuro ginásio, antes que algum deputado apresentasse o de alguém que não tivesse relação com a história do América Futebol Clube.
Lembrei de alguns nomes que contribuíram na construção da história do America, mas preferi propor que o homenageado fosse o Clube, perpetuando, dessa maneira, a sua memória: "Ginásio Poliesportivo América", foi minha sugestão.
No dia 11 de setembro de 2012, Alexandre apresentava o Projeto de Lei Nº 130/2012:
"Denomina o Ginásio Poliesportivo em construção em Santarém/PA de Ginásio Poliesportivo América, como forma de perpetuar parte importante da história do desporto santareno".
No dia 8 de outubro o governador Simão Jatene assinou a Lei Nº 7.737 que confirmava a denominação Ginásio Poliesportivo América. Lei publicada no DOE Nº 32.499, de 10/10/2013.
Simão Jatene terminou seu segundo mandato de governador do Pará em 2018, sem concluir o Ginásio Poliesportivo em Santarém. Em janeiro de 2019 assumiu o governador Helder Barbalho, que retomou a construção do Ginásio.
Já em agosto de 2019, o Secretário Regional do Governo do Baixo Amazonas, Henderson Pinto, me telefonou de Belém, estava em reunião com autoridades do governo Helder Barbalho. Queria informações sobre como ficou acertado o nome do Ginásio Poliesportivo, pois estavam querendo colocar o nome de uma pessoa no ginásio. Informei-lhe da existência do Projeto de Lei do deputado Alexandre.
Já em 2021, dia 18 de junho, fui novamente procurado pelo Henderson, ele estava em companhia da funcionária da Secretaria de Comunicações Kezia Carvalho, e da Bianca Rodrigues, da Secretaria de Esportes e Lazer, que vieram a Santarém para a inauguração do Ginásio no dia 22 de junho, data dos 360 anos da cidade.
Na ocasião, fui informado pelo secretário que o nome oficial do ginásio passou a ser "Arena Estadual do Oeste do Pará", e que o América, por ter cedido a área, seria homenageado com um painel ilustrado com fotografias, na entrada do prédio.
Como a Arena promoverá o esporte no Oeste do Pará, a mudança do nome, para mim, mesmo já tendo sido denominado de Ginásio Poliesportivo América, através de Lei publicada no Diário Oficial do Estado, em outubro de 2013, se justificava.
Com as informações e fotografias que forneci para a Kezia e a Bianca, quatro dias antes da inauguração, elas montaram bonito painel que encontra-se afixado na entrado da Arena.
Como programado, a inauguração oficial do espaço aconteceu no dia do aniversário de Santarém, com a fita sendo descerrada pelo governado Helder Barbalho.
Chegava ao fim a minha participação na trajetória do meu querido América Futebol Clube. Ainda hoje guardo a faixa de Campeão Santareno de 1965.
Para encerrar, recordo a festa que fizemos no dia 13 de março de 1997, uma quinta-feira, para festejar os 50 anos do América Futebol Clube. Reunimos torcedores, dirigentes e jogadores: Ivan Toscano, Márlio Cunha, Rubens Caroço, Zé Carlos Meschede, Maurílio, Odilson Matos, Simão, Miguel Coruja, Cabeleira, Roberto Sousa, Juvenal Paxá, Ronaldo Rabelo, Mozart, Amós Xabregas, Bendelaque e o comandante Vovô que estava de passagem pela cidade.
Rimos recordando nossas peripécias dentro e fora de campo.
Já naquela época o América só existia na lembrança de seus antigos torcedores, dirigentes e jogadores.
Agora, com a justa homenagem recebida na "Arena Estadual do Oeste do Pará", o nome do América Futebol Clube fica perenizado
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